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Pesquisa e Inovação

Pesquisa desenvolvida no IFMS é apresentada em Abu Dhabi

Estudante que desenvolveu técnica de conservação do caldo de cana capaz de eliminar o causador da doença de Chagas é o único representante do Centro-Oeste no evento internacional.
por Juliana Aragão publicado: 24/09/2019 16h40 última modificação: 24/09/2019 17h41
  • Cientistas de 60 países participam da feira cienfífica internacional

  • Estudante do IFMS é o único representante do Centro-Oeste na MILSET Expo-Sciences International 2019

  • Para o jovem sul-mato-grossense, o mais fascinante no evento é que todos falam a língua da ciência

  • João Victor fica na capital dos Emirados Árabes até sábado, 28

O estudante do curso superior de tecnologia em Alimentos do Campus Coxim do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), João Víctor de Andrade dos Santos, 19, está em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, para apresentar a pesquisa que começou a desenvolver nos laboratórios da instituição e que está prestes a receber a chancela de pesquisadores da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz).

Ao desenvolver um método para conservar o caldo de cana, João Víctor descobriu que a técnica também seria capaz de inativar o Trypanosoma cruzi, protozoário presente no barbeiro, inseto causador da doença de Chagas que, entre 2008 e 2017, provocou a morte de cerca de 4,6 mil pessoas por ano no Brasil. O estudo chamou a atenção da Fiocruz, que está fazendo os últimos testes para verificar a eficácia do método.

"O que mais tem me fascinado é que eu consigo ver os problemas de outras realidades e como os cientistas estão indo atrás de soluções. Todos aqui falam a mesma língua: a ciência. Nunca participei de algo tão intenso", comemora João Victor.

Em Abu Dhabi, a pesquisa é a única representante da região Centro-Oeste do Brasil na MILSET Expo-Sciences International 2019, evento com a participação de mais de mil projetos de pesquisa de 60 países. A feira, que teve início no último domingo, 22, segue até sábado, 28.

João Víctor relata a experiência de ser "vizinho" de estandes da Rússia, de Portugal e de tantas outras nações.

"O que mais tem me fascinado é que eu consigo ver os problemas de outras realidades e como os cientistas estão indo atrás de soluções. Todos aqui falam a mesma língua, a ciência, e isso é muito gratificante. Estou aprendendo muito, principalmente na área de microbiologia. Nunca participei de algo tão intenso", comemora o estudante.

A pesquisa foi destaque até na última edição do Fantástico. A reportagem mostrou porque o então adolescente resolveu estudar uma forma de conservar o caldo de cana e a trajetória do estudo até o momento.

História - Em 2016, quando cursava o ensino médio na Escola Estadual Viriato Bandeira, em Coxim, João Víctor e os colegas foram "desafiados" pelo professor de Química, Lucas Gandra - que se formou no IFMS - a encontrar a solução de problemas da sociedade.

Na época, o estudante convivia com um problema vivido diariamente pelo pai, vendedor de caldo de cana. "Meu pai tinha que colher a cana todos os dias para moer porque não havia como conservar o caldo produzido, e o caldo que sobrava não podia ser aproveitado, o que gerava um grande desperdício do produto".

Sem laboratório para fazer as análises químicas e biológicas, a escola fez uma parceria com o IFMS, que cedeu espaço e equipamentos para que o estudo fosse realizado. João Víctor e a então colega, Maria Eduarda Gobbi Pereira, desenvolveram uma técnica nos moldes da pasteurização capaz de conservar o caldo de cana.

"Depois de dois anos de testes, chegamos às temperaturas e tempos ideais. Primeiro, é preciso aquecer o caldo de cana a 90 graus por cinco minutos e, imediatamente em seguida, o produto deve ser resfriado em banho de gelo, a aproximadamente 7 graus. A técnica mantém a qualidade do caldo por até 20 dias e pode ser desenvolvida pelo próprio vendedor", detalha João Víctor.

Em uma segunda fase da pesquisa, os estudantes passaram a receber a coorientação de Aline dos Santos Garcia Gomes, professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e pesquisadora conveniada da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz).

João Victor passou 15 dias na capital do Rio de Janeiro onde, nos laboratórios da Fiocruz, verificou que o tratamento térmico poderia também inativar o protozoário causador da doença de Chagas no caldo de cana.

"O próximo passo será fazer análises sensoriais e em camundongos para certificar esse resultado e publicar a pesquisa. A ideia, futuramente, é produzir uma cartilha com linguagem simples para que o vendedor do caldo de cana possa aplicar o método e distribuir esse material em áreas endêmicas da doença", esclarece o estudante.

Pelo caminho trilhado até aqui, João Victor só tem a agradecer. "Somos um somatório de pessoas, vivências, experiências, e eu não teria chegado até aqui sem minha família, amigos, professores, orientadores e apoiadores. Sou muito grato a todos os docentes que me apresentaram a ciência", finaliza.

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