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Entrevista

David Denner Dias Quinelato

Professor da área de Eletrotécnica do Campus Campo Grande
por Osvaldo Sato publicado: 06/03/2018 15h00 última modificação: 07/03/2018 11h20
IFMS

Nascido na zona rural do Espírito Santo, onde trabalhou desde muito cedo, e com muita dedicação aos estudos, formou-se com honras na Escola de Sargentos do Exército Brasileiro. Hoje, casado, pai de um filho e com outro a nascer em abril, é professor da área de Eletrotécnica no Campus Campo Grande do IFMS.

Esse é um breve resumo da vida de David Denner Dias Quinelato, entrevistado deste Perfil do Servidor.

A história de vida dele tem, entretanto, muito mais a ser destacado, e nesta entrevista ele explica como o menino que possuía apenas o ensino fundamental interessou-se pela eletrônica por livros doados por um tio e, autodidata, iniciou seus estudos na área. Ele conta ainda sobre sua formação no Exército e, atualmente, sua atuação no campus enquanto docente e também nas pesquisas realizadas na área de geração de energia solar.

Em um dos laboratórios do campus, o professor David concedeu esta entrevista sobre sua história e atuação profissional no IFMS. Confira abaixo!

Onde nasceu, como foi sua infância?

Nasci na zona rural de Castelo (ES) e, por isso, comecei a trabalhar muito cedo na lavoura do café, com nove ou dez anos. Trabalhava durante a tarde, enquanto fazia o ensino fundamental no período da manhã. Quando terminei o ensino fundamental, tive que deixar a escola e restou apenas o trabalho na lavoura.

Quando despertou sua vontade de estudar?

Quando se é adolescente você não pensa muito em estudar, não me preocupava muito com isso. Trabalhava na fazenda, isso era uma necessidade, e estudei até o ensino fundamental pelo esforço dos meus pais. Onde eu morava, a escola era apenas uma pequena sala, com as quatro séries iniciais e uma única professora para todos.

Quando tive que cursar da quinta à oitava série, a escola era distante, o trajeto demorava uma hora na carroceria de uma caminhonete, em estrada de chão. Lembro que quando chovia tínhamos que empurrar a caminhonete por causa dos atolamentos. Foi nessa escola que terminei o ensino fundamental e depois tive que deixar de estudar.

Como surgiu o seu interesse pela área de eletrônica?

Na adolescência, um tio meu chamado Severino, que morava no Rio de Janeiro, foi visitar minha família e me trouxe alguns livros de eletrônica como presente. Comecei a ler e me fascinei com tudo que envolvia a área. Conversamos sobre esse meu interesse e, depois de seis meses, ele me trouxe um multímetro e um aparelho de solda. Comecei a estudar e aprender por conta própria, então meu pai pagou um curso a distância, feito por correspondência.

Logo estava fazendo pequenos consertos para a família e vizinhos. Lembro que meus primeiros consertos foram o televisor do meu avô e o rádio de um vizinho. Depois disso, um amigo me convidou para trabalhar aos domingos em sua eletrônica, na cidade de Castelo, e eu segui trabalhando na fazenda de segunda a sábado, e na eletrônica aos domingos. Em pouco tempo, o trabalho na eletrônica já era muito mais significativo para mim e nasceu o desejo de seguir nesta área.

Como foi sua trajetória profissional até chegar ao IFMS?

Para seguir na área de eletrônica, um primo me indicou a Escola de Sargentos do Exército, no Rio de Janeiro. Praticamente nunca tinha saído da minha cidade, avisei minha mãe e segui viagem. Tive pouco menos de seis meses para reaprender a estudar e estava há sete anos fora da sala de aula. Por isso, estudei todos os dias, das 6 às 23 horas, e então veio o concurso, no qual fui aprovado. Foi assim que eu, um garoto simples, saí da fazenda. Quando me formei na Escola de Comunicações do Exército, recebi a medalha de honra Marechal Hermes, como melhor aluno na área de eletrônica no ano de 2004. Saí da carreira militar, mas guardo esta medalha comigo.

Após formado, fui transferido para o Parque de Manutenção, aqui em Campo Grande, onde fiquei cerca de dez anos. Depois ainda atuei como engenheiro no 6º Centro de Telemática de Área. Em 2014 vi o concurso do IFMS, conheci a carreira e me interessei pela possibilidade de trabalhar com pesquisa e docência. Prestei o concurso e ingressei no IFMS em dezembro de 2016.

Recentemente, o Campus Campo Grande assinou ordem de serviço para iniciar a instalação de uma usina solar. Você é o fiscal do contrato. Além da questão de economia de energia, há também o aspecto pedagógico do projeto. Poderia nos falar mais sobre isso?

A energia fotovoltaica é a maneira menos agressiva ao meio ambiente para gerar energia elétrica, recebendo essa energia diretamente do sol. Tempos atrás, a geração e distribuição de energia solar não era sequer normatizada, o que aconteceu em 2012. Com isso, tivemos um aumento exponencial de unidades geradoras e a expectativa é de que, em 2023, tenhamos números na casa de milhões.

Com a redução dos custos de aquisição, é a falta de mão de obra especializada que ainda impede um maior crescimento desta geração. Por isso, cresce a importância do Instituto Federal, pois somos uma instituição de ensino técnico e tecnológico, que oferta, capacita e qualifica profissionais em eletrotécnica. Esta usina será uma importante ferramenta pedagógica, principalmente quando tivermos cursos para formação profissional especificamente nesta área. Abrem-se então muitas possibilidades de ensino e pesquisa para professores e estudantes.

Paralelamente, você também executa outros projetos nessa questão de eficiência enérgica. Um deles é relativo a um sistema para desligar automaticamente as luzes do campus. Como é isso?

O campus possui três ações conjuntas para redução dos gastos com energia elétrica. A primeira é a geração de energia solar. A segunda é ajustar nossa fatura à demanda de energia elétrica. A terceira é a automatização total e integrada das luzes do campus. Isso porque as luzes do campus não são totalmente automatizadas: elas estão programadas para acender no final da tarde e apagar no início da manhã e isto mantém um consumo alto durante a noite. Criamos um protótipo com microcontrolador que desliga parte das luzes, nas áreas onde não há presença ou movimentação de pessoas, com acendimento automático também quando os sensores registrarem a circulação.

Como é o David como pessoa, o que gosta de fazer, tem hobbies?

Minha profissão. Gosto muito do que faço e quando volto para casa, também estou envolvido com eletrônica. Minha esposa reclamava dos transistores e resistores que ficavam espalhados e perdidos pela casa, mas acho que hoje ela se acostumou. Gosto também de esportes, principalmente corrida, uma prática que herdei de família, pois meu pai era corredor. No Exército tive também incentivo, por isso mantenho a prática até hoje.

Que tipo de professor é o David?

Sou um pouco metódico, perfeccionista, acho que por causa do meu tempo como militar. Mas como professor, busco sempre um tratamento individualizado para cada aluno, contribuindo com o desenvolvimento de cada um.

Atualmente está fazendo mestrado? Qual sua área de pesquisa?

O trabalho de conclusão do meu curso de especialização em docência foi a proposta de um curso técnico na área de geração fotovoltaica com foco na agricultura familiar. No mestrado, sigo neste tema, agora com a proposta de um sistema que detecte a necessidade e limpe os painéis solares. O problema que buscamos resolver é que, à medida que o painel recebe sujeira, ele vai perdendo sua capacidade energética. O projeto abrange ainda um sistema automático de limpeza dos painéis, principalmente para usinas, com grande quantidade de painéis, o que inviabiliza uma limpeza manual.

O que espera para o futuro do Campus Campo Grande e do IFMS?

Eu espero que ele se torne uma referência em todas as suas áreas de atuação. Que as pessoas, quando pensarem em tecnologia, logo se refiram ao IFMS. Assim imagino o futuro de nossa instituição.

Na área de eletrotécnica, vejo a demanda por mão de obra crescendo, na área de geração distribuída, e o IFMS já está formando profissionais e realizando pesquisa na área, agora na sede definitiva do campus, onde podemos trabalhar com os alunos nos laboratórios toda a parte prática de nossas disciplinas.