Você está aqui: Página Inicial > Êxito > A trajetória do asteroide pantaneiro
10 Anos

A trajetória do asteroide pantaneiro

Luiz Fernando 02

Ao completar dez anos, IFMS conta a história de Luiz Fernando da Silva Borges, jovem cientista formado pela instituição e reconhecido internacionalmente por pesquisas nas áreas de Engenharia Biomédica e Neurociência.

Uma das diversões do menino curioso nascido na cidade pantaneira de Aquidauana (MS) era olhar o céu em noite estrelada. Mal sabia que, dali a alguns anos, seu nome batizaria um asteroide, o “33503 Dasilvaborges”. Literalmente, uma trajetória interestelar...

O protagonista desta história é Luiz Fernando da Silva Borges, técnico em Informática formado pelo Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) que, aos 20 anos de idade, acumula pesquisas reconhecidas internacionalmente na área de Engenharia Biomédica e Neurociência.

Luiz Fernando Fazendo Experimento

Filho único de professora e bombeiro, Luiz revelou o interesse pela ciência logo cedo. Aos 8 anos, a brincadeira preferida era reproduzir, dentro de casa, experimentos que assistia em programas de canais educativos. Luiz conta que, para desespero da mãe, ele fazia da cozinha da família um laboratório, e que nas séries do ensino fundamental não encontrou apoio para fazer ciência.

Mantendo o hábito de “brincar de ciência”, Luiz conheceu o movimento das feiras científicas, que nos últimos anos cresceu no Brasil. O desafio era chegar à Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), evento promovido anualmente pela Universidade de São Paulo (USP).

Na adolescência, passou a ter um objetivo: obter apoio para desenvolver pesquisas científicas no ensino médio. E como se estivesse “escrito nas estrelas”, em meados de 2011 ouviu falar sobre uma instituição de ensino que estava sendo implantada em Aquidauana. O tal IFMS parecia atender aos interesses do estudante.

“Soube que os professores dos Institutos Federais tinham a capacitação necessária para orientar projetos de pesquisa e que os estudantes tinham todas as condições de desenvolvê-los, inclusive recebendo bolsa para isso. Passei as férias de 2012 inteiras estudando para o Exame de Seleção, e acabei passando em primeiro lugar no curso técnico em Informática”

No primeiro semestre de 2013, um novo e vasto horizonte surgiu diante dos olhos de Luiz. O curso técnico em Informática integrado ao ensino médio do IFMS poderia levá-lo ao universo da ciência e da tecnologia. Descoberta que transformou a vida do jovem sul-mato-grossense...

Luiz Fernando Ai

Começou, então, uma jornada pelo conhecimento. Nas primeiras aulas de Biologia do IFMS, Luiz entendeu como os laboratórios faziam o teste de paternidade. Ao saber que o exame era realizado em uma espécie de “máquina de xerox de DNA”, o estudante foi para casa e pesquisou mais sobre o assunto. Descobriu que a cópia era resultado da alternância da temperatura dos tubinhos.

Luiz fez, então, uma ousada proposta ao professor de Biologia, Paulo Dutra. “E se a gente fizesse a cópia de DNA como prática de laboratório no IFMS”? O jovem lembra ter ouvido algo como: “Você deve estar maluco, porque só a máquina para fazer isso custa mais do que o laboratório inteiro”!

Maluco ou não, Luiz insistiu na tese de que conseguiria fazer o experimento. E assim nasceu o primeiro projeto de pesquisa desenvolvido pelo estudante no IFMS. Detalhe:
nessa época, o jovem estava ligadíssimo em séries de televisão que mostravam a criação de mutantes e clones. Mais uma vez, a ficção o desafiava a fazer ciência...

Em meados de 2014, Luiz conheceu a área de pesquisa interface cérebro-máquina, criada pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. “Em uma palestra dele, fiquei encantado com a possibilidade de conjugar técnicas de computação e transformar a atividade elétrica cerebral em uma ação, em outras palavras, controlar coisas com o pensamento”, relembra.

Inspirado por Nicolelis, o estudante resolveu criar uma prótese robótica que seria controlada por impulsos elétricos advindos de músculos remanescentes do corpo de pessoas amputadas. Nas pesquisas, descobriu que os métodos de controle existentes eram limitados. O jovem cientista queria que o amputado fizesse muito mais do que simplesmente abrir e fechar as mãos. E conseguiu...

Ainda na área de interface cérebro-máquina, Luiz queria ir além. Em sua terceira pesquisa, desenvolvida com o apoio de uma parceria privada, o estudante resolveu desenvolver uma forma de pessoas em estado vegetativo ou coma se comunicarem...

As pesquisas levaram o estudante sul-mato-grossense a três edições da Intel ISEF, considerada a maior feira científica de ensino médio do mundo.

“Chegar à Intel ISEF, em 2015, foi a realização de um sonho. É uma sensação indescritível de dever cumprido, momento em que todos esforços e decepções valem a pena. As noites mal dormidas e os finais de semana não aproveitados foram todos recompensados”

Além da emoção, Luiz também trouxe para casa o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido. O termociclador de baixo custo para amplificação de DNA – a tal “máquina de xerox de DNA” que o estudante criou com um custo 45 vezes menor do que o de mercado – foi considerado o melhor projeto brasileiro da área de tecnologia social pela Organização dos Estados Americanos (OEA).

Em 2016, o estudante criou um novo método de controle da prótese robótica capaz de fazer um amputado digitar teclado ou tocar piano. A pesquisa de nome complicado - “Prendendo fantasmas em robôs: um novo método de controle e design para próteses mioelétricas transradiais e rearranjo neuronal do Mapa de Penfield para feedback tátil” - foi uma das grandes sensações da Intel ISEF. Ficou em primeiro lugar na categoria Engenharia Biomédica e foi considerada a melhor entre todas da área. Luiz ainda ganhou uma viagem para a Europa e teve um asteroide batizado com seu nome.

Certificado

O certificado que batiza o asteroide“33503 Dasilvaborges” foi emitido pelo Lincoln Laboratory, do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Cada cena, cada palavra dita no momento da premiação está na memória de Luiz. Uma lembrança que, por um acaso do cosmos, acabou eternizada...

Luiz Fernando Surfando no Asteroide

Em 2017, mais reconhecimento na Intel ISEF. O projeto “Hermes Braindeck: uma interface cérebro-computador para comunicação com pacientes inicialmente classificados como comatosos ou vegetativos” conquistou duas segundas colocações na categoria Engenharia Biomédica.

Diplomado técnico em Informática pelo IFMS, Luiz pretende cursar Engenharia Biomédica e Neurociência no exterior. Focado, tem como objetivo de vida trabalhar na área, criar novas técnicas cirúrgicas e equipamentos que garantam qualidade de vida a pacientes com doenças cerebrais.

“Meu interesse não está nem 100% na área da saúde, porque não quero ser médico, nem 100% na área de engenharia, mas sim na interface entre as duas. Sempre gostei muito de misturar conteúdos e saber como uma disciplina pode intervir na outra. A Engenharia Biomédica e a Neurociência permitem esse ‘casamento’”, explicou. Sobre a participação do IFMS nessa história toda, Luiz admite que foi a instituição que o fez, literalmente, ‘voar’...

Publicada em 06/12/2018

Texto:
Juliana Lanari
Edição de texto:
Vinícius Vieira
Captação e edição de imagens:
Rafael Tsuge
Projeto gráfico:
Murilo Delmondes
Ilustrações:
Paulo Moska