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Metalurgia e línguas são temas de pesquisas em Corumbá

Por estar localizado em uma região de fronteira e onde a exploração de minério de ferro é a base da economia, campus do IFMS desenvolve diversas pesquisas nas áreas.
por Juliana Aragão publicado: 10/09/2019 10h29 última modificação: 18/09/2019 11h27

Aqui tem Ciência e Tecnologia Corumbá

Quem visita a cidade sul-mato-grossense de Corumbá tem a oportunidade de conhecer, ao mesmo tempo, as belezas do Pantanal, a região de fronteira com a Bolívia e o Maciço do Urucum, uma das maiores reservas de minérios do país. É nesse contexto que o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) estimula os estudantes a fazer pesquisa, por isso muitos projetos têm como temáticas a exploração do minério de ferro e questões linguísticas relacionadas ao país vizinho.

Uma das propostas do projeto de pesquisa "Avaliação da incorporação da cinza da Terminália Catappa e resíduos da barragem de minério de ferro na confecção de blocos intertravados" - desenvolvido no ciclo 2018-2019 da iniciação científica - é utilizar o rejeito do minério de ferro para substituir a argila na produção de tijolos solo cimento, também conhecido como tijolos ecológicos.

"Para produzir esse tijolo é necessário ter argila, cimento e água. A questão é que, em Corumbá, a argila não pode ser retirada dos leitos dos rios porque esses locais são preservados. Buscamos como alternativa, então, utilizar o rejeito do minério de ferro para substituir a argila. Com a substituição de 30%, todas as normas regulamentadoras foram atingidas, ou seja, o tijolo ficou dentro dos parâmetros exigidos", explica a orientadora da pesquisa, Samara Valcacer.

  • Estudantes apresentam pesquisa que utiliza rejeito de minério de ferro para produção de tijolo ecológico

O mesmo projeto de pesquisa propõe a utilização do fruto da Terminalia Catappa, árvore conhecida como sete copas e muito comum em Corumbá, para a produção do piso intertravado, tipo de pavimento formado por blocos de concreto. A orientadora, Claudia Alves, explica que a proposta é substituir o cimento por um pó (cinza) produzido a partir da queima da castanha.

"Ao observarmos uma grande quantidade dos frutos nas ruas da cidade decidimos analisar a castanha e descobrimos que ela tem um alto teor de silício, também presente no cimento. Estamos buscando a melhor temperatura para a queima do fruto e, posteriormente, faremos ensaios mecânicos e de resistência para avaliar a aplicabilidade do material desenvolvido na produção do piso intertravado", detalha Claudia.

“Tinha muito medo de usar o britador e hoje o utilizo com muita facilidade e perfeição, graças à iniciação científica”, ressalta a estudante Dayhana Pereira.

Dayhana Pereira, 31, aluna do curso superior de tecnologia em Processos Metalúrgicos, foi bolsista da pesquisa. Mais do que promover o conhecimento, a iniciação científica provocou uma transformação interna.

“Venci limitações e o preconceito de ser uma mulher manuseando um britador. Tinha muito medo de usar esse equipamento e hoje o utilizo com muita facilidade e perfeição, graças à iniciação científica. Foi uma das maiores experiência da minha vida”, ressalta Dayhana.

  • Dayhana, bolsista na pesquisa da Terminalia Catappa e a orientadora, Claudia Alves

  • Cinza do fruto da árvore sete copas tem propriedades semelhantes às do cimento

Ensino de espanhol - O fato de estar situada na fronteira com a Bolívia faz de Corumbá uma cidade onde os moradores têm contato frequente com a língua espanhola. Essa proximidade entre as duas línguas é tema do projeto “Os Cognatos/ falsos amigos ou Heterossemânticos e suas interferências linguísticas no ensino da Língua Espanhola no IFMS/Corumbá”.

A pesquisa busca analisar até que ponto os heterossemânticos ou "falsos amigos" - palavras iguais em ambas línguas, porém com significados totalmente diferentes - interferem no ensino da língua espanhola a falantes da língua portuguesa. A orientadora, Jeannette Pereyra, explica que o aprendiz de uma língua estrangeira apoia-se na língua materna e que há cerca de 40% de similaridade entre o português e o espanhol.

“Os alunos vivem ao lado da Bolívia. Queremos mostrar que ambas as línguas possuem suas singularidades e importâncias”, pontua a estudante Radija Silva.

"O estudo foi feito com todas as turmas de alunos de língua espanhola do IFMS em Corumbá. Concluiu-se que os falsos amigos são uma ótima ferramenta de ensino-aprendizagem e devem ser utilizados, porém é importante que os professores abordem o tema hoterossemânticos de forma ampla e cuidadosa. É preciso tomar cuidado para não causar uma confusão linguística grave, principalmente de interpretação", destaca.

A orientadora relata que a inclusão dos "falsos amigos" nas aulas de espanhol é motivo de muitas risadas entre os estudantes e, é nesse clima de descontração, que se busca fixar o conteúdo. Entre os exemplos estão as palavras rato, que em espanhol significa momento, e pelado, que para os falantes da língua espanhola tem o significado de careca.

Radija Silva, 17, estudante do curso técnico em Metalurgia e voluntária no projeto de pesquisa ao lado do colega Hebert Lopes, ressalta a importância do estudo na região de fronteira.

“Os alunos vivem ao lado da Bolívia, vários bolivianos inclusive moram, trabalham e estudam em Corumbá. A falta de conhecimento sobre as variações semânticas de certas palavras ou até mesmo a ideia de que é "a mesma coisa" são muito comuns. Queremos mostrar que ambas as línguas possuem suas singularidades e importâncias”, pontua Radija.

  • Equipe do projeto que propõe a utilização dos "falsos amigos" no ensino da língua espanhola em Corumbá

Conforto térmico - Uma característica bastante marcante da cidade de Corumbá - as altas temperaturas - também virou objeto de pesquisa no IFMS. Com o projeto "Estudo da eficiência de um tijolo solo-cimento com adição de material polimérico para proporcionar conforto térmico", estudantes do curso técnico em Metalurgia desenvolveram um tijolo capaz de gerar conforto térmico e melhorar as condições de vida da população.

"O que fizemos foi adicionar MMF, materiais capazes de absorver e liberar calor de forma mas inteligente, aos tijolos ecológicos já existentes. Nos testes iniciais observamos uma diminuição de até dois graus na temperatura interna do ambiente, sem alterar a resistência mecânica do tijolo. Acreditamos que com adequações conseguiremos alcançar melhor eficiência", explica Samara, que também orienta esse projeto.

"A pesquisa contribui para uma formação mais sólida e nos faz compreender o quão importante é fazer ciência", pontua o estudante Guilherme Barbosa.

Um dos estudantes envolvidos com a pesquisa é Guilherme Barbosa, 17, que concluiu o curso no primeiro semestre deste ano e, agora, só aguarda a formatura para ter o diploma de técnico em Metalurgia nas mãos. O jovem que pretende fazer faculdade de Engenharia de Minas só vê benefícios em fazer iniciação científica.

"Como estudante, contribui para uma formação mais sólida e incentiva na busca por conhecimento. Como pessoa, nos faz compreender o quão importante é fazer ciência. Começamos a olhar a pesquisa com outros olhos", pontua Guilherme.

Iniciação Científica - No ciclo 2018-2019 da iniciação científica, estudantes e professores do Campus Corumbá desenvolveram 15 projetos de pesquisa nas mais diversas áreas. O montante investido para o custeio dos trabalhos e o pagamento de bolsas aos estudantes foi de R$ 54.570,00.

Na série histórica compreendida entre 2014 e 2019, 152 estudantes estiveram envolvidos com iniciação científica no Campus Corumbá, dos quais 101 receberam bolsas do próprio IFMS ou do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e 20 receberam prêmios em eventos científicos estaduais e nacionais.

A fim de popularizar a ciência e a tecnologia, o IFMS promove feiras científicas anuais nos dez campi. A Feira de Ciência e Tecnologia do Pantanal em Corumbá (Fecipan) reúne trabalhos de estudantes do ensino fundamental, médio e técnico integrado do município e da cidade vizinha, Ladário. Nos últimos cinco anos, 459 projetos foram apresentados na feira.

A edição 2019 da Fecipan será realizada entre os dias 3 e 5 de outubro, durante a Semana de Ciência e Tecnologia do IFMS. Mais informações sobre as feiras científicas do IFMS estão disponíveis na página do evento.

Aqui tem Ciência e Tecnologia - A série de reportagens mostrou a importância da iniciação científica para a sociedade.

Foram abordadas pesquisas sobre produtividade agrícola desenvolvidas no Campus Nova  Andradina, a consolidação do IFMS em Coxim como polo de pesquisa da região Norte do estado, além de trabalhos executados por estudantes e professores nos campi DouradosJardim e Naviraí.

Em Três Lagoas o foco foi eficiência energética, bem como qualidade de vida em Campo Grande e questões do setor agropecuário em Ponta Porã. Em Aquidauana, muitas pesquisas visam ao aproveitamento de resíduos.