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Febrace 2019

Pesquisas na área da inclusão serão levadas à feira brasileira

Ao todo, serão apresentados 14 trabalhos do IFMS na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), entre os dias 19 e 21 deste mês, em São Paulo.
por Juliana Aragão publicado: 12/03/2019 08h15 última modificação: 12/03/2019 08h15

Tecnologia e inovação não são o único enfoque das pesquisas do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) que serão apresentadas na edição 2019 da Feira Brasileira de Ciência e Engenharias (Febrace). Estudantes dos cursos técnicos também têm interesse em temas como inclusão, preconceito e tradição de culturas.

Um dos projetos é de Corumbá e aborda a questão do movimento migratório. Laísa Monteiro, Narjara Aréco e Marcelo Arruda - todos com 16 anos e estudantes do curso técnico em Informática -, apresentarão a pesquisa "Em Questão: português como língua de acolhimento para refugiados em contexto corumbaense".

Entre julho de 2017 e junho de 2018, a Polícia Federal registrou a entrada de quase 80 mil migrantes em Corumbá, município sul-mato-grossense localizado na fronteira do Brasil com a Bolívia. A presença de pessoas das mais variadas nacionalidades sempre foi notada pelos estudantes, que resolveram estudar uma forma de acolhimento aos refugiados.

"Ocorrem ações em Corumbá para acolher refugiados, mas a opinião dessas pessoas não é levada em consideração porque elas não têm o domínio da língua portuguesa. O projeto quer dar voz a esse indivíduo", explicou a estudante Laísa Monteiro.

"Muitas ações sociais ocorrem no município para o acolhimento deles, mas em nenhuma a opinião dos refugiados é levada em consideração, já que eles não têm o domínio da língua portuguesa. O projeto nasceu com o intuito de dar voz a esse indivíduo para que ele seja inserido na sociedade que o acolheu", explicou Laísa.

Sob orientação dos professores José Augusto Rabelo e Renilce Barbosa, o projeto busca, futuramente, oferecer aulas de língua portuguesa a refugiados.

Os alunos envolvidos já participaram de audiências públicas sobre o tema e realizaram, durante a Semana de Ciência e Tecnologia do IFMS no ano passado, um minicurso voltado a outros estudantes. Por meio de dinâmicas, os participantes vivenciaram a experiência de estar num lugar novo sem o domínio da língua corrente.

O plano de trabalho do projeto prevê ainda a realização do workshop "Migração e refúgio: uma discussão necessária". O evento será aberto ao público e pretende discutir os motivos que levam Corumbá a ser uma das principais rotas de passagem dos refugiados no Brasil.

Para Laísa, falar sobre inclusão é reviver a história de Corumbá. "A cidade sempre foi marcada por fluxos migratórios intensos. Outro fator é que o município se encontra em área de fronteira seca com o território boliviano e na tríplice fronteira com Paraguai e Bolívia, recebendo migrantes de diferentes nacionalidades. A inclusão é um debate fundamental, já que migrantes e refugiados compõe a população corumbaense".

Marcelo, outro estudante que atua na pesquisa, explica no vídeo quais os objetivos do projeto e as expectativas de participar, pela primeira vez, de um evento científico nacional.

Outro tema que o IFMS levará à Febrace é o preconceito na língua portuguesa. As estudantes do curso técnico em Informática de Aquidauana, Roseana Sales e Victória Pael, ambas com 16 anos, irão apresentar o trabalho “Léxico e preconceito: uma análise da linguagem utilizada em dicionários e em páginas web para designar os excluídos”.

Atentas à questão da exclusão social, as colegas de turma resolveram analisar quem são os excluídos e como eles são tratados em dicionários e páginas da internet. A orientação é dos professores Pablo de Queiroz e Juvenal Cezarino.

"Analisamos a acepção da palavra mulher, construída de forma inadequada ao longo dos anos, em dicionários antigos, contemporâneos e eletrônicos. A ideia é analisar também palavras como gordo e negro", detalhou a estudante Victória Pael.

"Inicialmente, a pesquisa analisa de formas semântica e histórica a acepção da palavra mulher, construída de forma inadequada ao longo dos anos. Investigamos a definição desse gênero em dicionários antigos, contemporâneos e eletrônicos", detalhou Victória.

A estudante explica que o estudo também se baseia no léxico, ou seja, no vocabulário. "Pretendemos levar esse conhecimento a estudantes da rede pública e mostrar que o preconceito também se acomoda na linguagem de uma forma oculta", pontuou.

Resultados preliminares mostram que muitas acepções distorcem a imagem da mulher. "Foram investigados dicionários do século XVII em diante, porém iremos analisar mais a fundo, tendo como ponto final a não perpetuação desse preconceito. Temos em mente analisar outras palavras, como gordo e negro, por exemplo", explicou a estudante.

No vídeo, Victória e Roseana detalham o projeto:

Com foco na preservação das tradições culturais, os estudantes de Ponta Porã, João Guilherme Dutra e Ana Clara Derzi, ambos com 17 anos, resolveram estudar os “Saberes tradicionais indígenas: plantas medicinais e seus usos”

Foi a participação em um colóquio sobre temáticas indígenas que despertou neles a vontade de estudar as tradições desses povos. Como precisavam desenvolver um trabalho para concluir o curso, resolveram aliar esse tema ao uso de plantas medicinais, algo que está relacionado ao curso técnico em Agricultura.

"Ao conhecer, coletar e divulgar as plantas medicinais utilizadas pelos guarani kaiowá, queremos registrar esse conhecimento para indígenas e não indígenas e mostrar o valor dessas tradições", explicou o estudante João Guilherme.

"Queremos conhecer, coletar e divulgar as plantas medicinais utilizadas pelos guarani kaiowá da aldeia Nhanderu Marangatu, no município de Antônio João. Pretendemos criar uma forma de registro desses conhecimentos para as comunidades indígena e não indígena, na tentativa de mostrar o valor dessas tradições", explicou João Guilherme.

O projeto, que tem a orientação dos professores Ana Paula Kaimoti e Elke Leite Bezerra, pretende sistematizar a produção das plantas medicinais na aldeia. "A comunidade nos ressaltou a preocupação em perder essa tradição".

Inicialmente, os estudantes fizeram entrevistas com os guarani kaiowá para conhecer as espécies mais utilizadas para fins medicinais. Amostras foram coletadas e, neste momento, está sendo construído um herbário - coleção de plantas dessecadas, conservadas e organizadas - com a finalidade de manter o registro do estudo. 

Para João Guilherme, estudar as tradições indígenas também é uma forma de inclusão. "Mato Grosso do Sul apresenta altos índices de violência contra comunidades indígenas, então é de extrema importância criarmos uma forma de resistência. Nosso intuito é mostrar a relevância dos saberes tradicionais para a nossa sociedade".

Ao lado de Ana Clara, o estudante fala sobre as expectativas da primeira participação em um evento científico nacional e explica um pouco mais os objetivos do projeto.

Outros projetos - Estudantes e professores do IFMS levarão, ao todo, 14 projetos à edição 2019 da Febrace. Quatro deles apresentam soluções web em diversas áreas. As outras pesquisas tratam sobre temas como alimentos, potencial antibiótico de insetos, armazenamento de soja e paisagismo.

Essa será a oitava participação do IFMS no evento, que é organizado pela Universidade de São Paulo (USP), e que este ano será realizado entre os dias 19 e 21 de março, na capital paulista.

Os trabalhos foram credenciados nas Feiras de Ciência e Tecnologia realizadas pelo IFMS, na Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciências de Mato Grosso do Sul (Fetec/MS), em outros eventos realizados no estado, ou selecionados diretamente pela comissão organizadora da Febrace.

Até 19 de março, a série de reportagens #PartiuFebrace2019 explicará os projetos de pesquisa desenvolvidos no IFMS e que serão apresentados no evento. 

Outros 11 projetos, desenvolvidos por diversas instituições de ensino públicas e privadas de Mato Grosso do Sul, também irão representar o estado no evento.

Febrace Com 12 prêmios conquistados no ano passado, o IFMS passou a acumular 88 premiações no evento.

A mostra brasileira de projetos pré-universitários reúne trabalhos de estudantes dos ensinos fundamental, médio e técnico de escolas públicas e privadas de todo o país.

O evento é realizado desde 2003 pela Escola Politécnica da USP, com objetivo de aproximar estudantes de nível médio da realidade das universidades, estimulando assim a pesquisa científica.

Além de premiar os melhores projetos, a Febrace credencia trabalhos para participação em eventos internacionais, como a Intel ISEF (Feira Internacional de Ciências e Engenharia), realizada anualmente nos Estados Unidos.

Na página oficial da Febrace estão disponíveis mais informações sobre o evento.