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Entrevista

Claudio Zarate Sanavria

Professor da área de Informática do Campus Nova Andradina é o primeiro diretor-geral eleito do IFMS
por Cleyton Lutz publicado: 26/01/2016 14h15 última modificação: 03/03/2016 09h09
Diretor-geral do Campus Nova Andradina

Diretor-geral do Campus Nova Andradina

Perto de completar seis anos como servidor do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), o professor Claudio Zarate Sanavria faz parte da história da instituição ao se tornar o primeiro diretor-geral eleito pela comunidade acadêmica do Campus Nova Andradina. Depois de vencer a consulta realizada em maio de 2015 com 56% dos votos, Sanavria foi empossado em dezembro no ano passado pelo reitor do IFMS, Luiz Simão Staszczak, iniciando sua gestão à frente do campus.

Natural de Corumbá (MS), o professor é graduado em Análise de Sistemas, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), e em Pedagogia, pelo Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran), possuindo ainda mestrado e doutorado em Educação, pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e Universidade Estadual Paulista (UNESP), respectivamente.

Com 18 anos de docência – ou 22 anos como ele gosta de destacar, considerando o período em começou a cursar o magistério ainda na adolescência – Sanavria confia nessa experiência para realizar sua gestão, voltada à expansão e reconhecimento da unidade não apenas em Nova Andradina, como em todo Vale do Ivinhema.

Como se deu a escolha pela área de Informática na graduação?

Deu-se, em um primeiro momento, no final dos anos 1990, pois era uma área que estava em evidência. Entrei na universidade para fazer o Bacharelado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, pensando primeiramente em trabalhar como desenvolvedor. Mas como eu já atuava como professor, uma vez que já tinha feito Magistério, durante a universidade a vontade de trabalhar como professor na área de Informática foi se manifestando.

Como foi sua experiência no curso de Magistério?

O magistério na minha família é praticamente uma tradição. Muitos tios e primos meus são professores. Com 15 anos eu entrei no Magistério, no antigo Cefam (Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério), em Corumbá. Era um curso parecido com o que temos no IFMS, integrado e integral. Durava quatro anos e dava formação para a pré-escola e as séries iniciais do ensino fundamental, como eram conhecidas na época. Quando eu me formei no Magistério, ao mesmo tempo em que entrei na universidade, comecei a trabalhar como professor na educação básica.

Minha primeira turma foi uma de Jardim I. Era recém-formado e tinha 18 anos. Depois disso trabalhei com turmas de 1a série. Trabalhava entre 1º e 4a série, mas minha atuação era predominantemente na alfabetização. Trabalhei também na rede estadual. Em 2001, concluí o curso de graduação em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e, dois anos mais tarde, surgiu a oportunidade de ser professor substituto na UFMS. Comecei dessa forma minha experiência no ensino superior.

A partir daí peguei uma licença no Estado e fiquei apenas no ensino superior. Trabalhei como professor substituto na UFMS, ministrando disciplinas como algoritmos e linguagem de programação. O limite de atuação na instituição era de dois anos. Nesse meio tempo surgiu a oportunidade de trabalhar também na UCDB.

Você chegou a conciliar a docência na educação básica com a de nível superior?

Apenas no início. Quando entrei na UFMS, ainda estava na rede estadual. Durante um tempo conciliei as duas. Então me licenciei do Estado. Um pouco antes de me licenciar, fui transferido para o Centro de Educação Profissional Ezequiel Ferreira de Lima, em Campo Grande. Eles precisavam de alguém formado na área de Computação para poder atuar lá. Fui para ser analista de sistemas, mas mais uma vez acabei me tornando professor. Eles viram minha experiência e fiquei como coordenador do curso de Informática. Fique lá até resolver me dedicar exclusivamente ao ensino superior. Na UCDB dei aula em Campo Grande e São Gabriel do Oeste. Posteriormente passei também a dar aulas na Uniderp. Dessa vez ia até o município de Rio Verde, que é mais longe ainda do que São Gabriel do Oeste.

Em 2009 teve o concurso do Instituto Federal. Foi o primeiro concurso que tivemos, apenas para Nova Andradina, e foi meu amigo que me disse que haveria concurso para o Cefet, que é como as pessoas falavam na época. Eu já havia terminado o mestrado e foi meu primeiro concurso na Rede Federal. Não esperava ser aprovado de imediato. Fiz mais com o objeto de adquirir experiência, para saber como era a prova, já que ela tinha várias etapas, como avaliação escrita e didática.

Até aquela época, eu havia feito apenas concursos na rede estadual, que consistiam apenas na prova escrita. Quando eu passei da primeira etapa e fui para a prova didática, comecei a ver que a coisa estava ficando séria e estudei bastante para ser aprovado. Não esperava ser chamado de imediato, para mim foi uma surpresa. Como a minha área é Engenharia de Software, e como as disciplinas começam a aparecer na metade dos cursos, e não no início, eu acreditava que levaria um tempo até ser nomeado. Mas para minha surpresa, fui nomeado em 2009 e tomei posse no ano seguinte, junto com o primeiro grupo de servidores.

E como foi a volta para a Educação na pós-graduação?

Eu tenho uma especialização na área de Computação, em Engenharia de Websites, e isso me ajudou muito a conseguir aulas nas faculdades privadas. Cheguei a começar um mestrado em Ciência da Computação na UFMS. Posteriormente o interrompi, pois não me sentia conectado com a área. Quando saí, fiquei pensando em qual área deveria seguir na pós-graduação. Então surgiu a vontade de retornar à Educação. Como meus colegas sempre falavam que era diferencial ter o magistério ligado à Computação, e também já era professor na UCDB, entrei no mestrado da instituição.

Ingressei em 2006 no mestrado em Educação e me identifiquei totalmente com a área. Retomei minhas leituras do magistério e vi que era isso mesmo que queria. Já o doutorado foi uma oportunidade que surgiu a partir do momento que já estava no IFMS. Eu vim para cá e então foi aberta a primeira turma de doutorado na UNESP de Presidente Prudente. Em virtude da viabilidade, por ser próximo, me inscrevi e fui selecionado. Estar no IFMS foi o que me propiciou fazer o doutorado. Minha escolha pela Educação foi feita de idas e vindas.

Como é fazer parte da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica?

A primeira experiência que tive foi como aluno, quando fiz o Magistério, pois fui estudante numa formação integrada. Quando fui para um Centro de Educação Profissional, como já mencionei, pude atuar mais de perto, já que estive como coordenador de Informática. Achei interessante, mas não esperava voltar para a educação profissional.

Quando surgiu a oportunidade do concurso no Instituto Federal, nós nem entendíamos direito o que era, mas sabíamos que os antigos Cefets tinham ensino médio e superior. Era uma área em que nunca tinha atuado, pois fui professor de ensino fundamental e de ensino superior. Esse “meio”, eu não conhecia, por isso achei bem desafiador.

O que mais te chamou a atenção quando você passou a fazer parte da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica?

A possibilidade de fazer pesquisa no ensino médio, o que é um grande diferencial. No meu ensino médio, eu tive a oportunidade de fazer pesquisa, mas sou de uma época em que a realidade era outra. Não existia bolsa, as pesquisas eram feitas para as feiras de ciência da própria escola. Certa vez fiz um trabalho sobre o jacaré do Pantanal, que foi para uma feira municipal de ciências, sendo premiado.

Depois participamos de uma feira estadual em Campo Grande e ganhamos também. Mas depois, isso adormeceu. Posteriormente, quando comecei a ser docente no IFMS, passei a reviver isso, mas agora como orientador. Considero fantástico podermos fazer, no ensino médio, pesquisas que na maioria dos casos é possível apenas no ensino superior. Nesses seis anos, os resultados que o Instituto Federal já conseguiu são justamente por esse diferencial.

Você é o primeiro diretor-geral da instituição a ser eleito por meio de consulta interna. Como vai atender à comunidade acadêmica e servidores?

Minha gestão será dividida em etapas. Nesse primeiro momento procuraremos fazer um entendimento e estruturação dos processos, fazendo com que os setores entendam suas atribuições e identifiquem seus objetivos. Esperamos conseguir dar continuidade ao que já funciona e tentar novas propostas dentro daquilo que os setores considerarem deficitário. A ideia é trabalhar com a experiência que o setor já tem, para que os servidores possam dizer o que funciona ou não.

Assim, poderemos começar a propor novos processos e, uma vez dando certo, socializar isso com os outros diretores, para que isso se propague. Apesar de ser a primeira gestão eleita, nosso campus já tem uma vivência de seis anos. Nesse período, conseguimos olhar para trás e avaliar o que foi válido ou não nesse processo.

Já a segunda etapa, que não começa necessariamente após a primeira, é uma etapa de fortalecimento do que já temos. Possuímos três cursos superiores, dois cursos integrados de nível médio, um curso subsequente, temos também cursos FIC, EAD, Pronatec… Estamos no momento de fortalecer e consolidar tudo o que temos, para dar a cara que nós queremos.

Temos ainda dois eixos definidos, nas áreas de Informação e Comunicação e Recursos Naturais. Nossa ideia é fortalecer esses eixos e, principalmente, integrá-los com vistas à pesquisa aplicada. Olhando para Nova Andradina, eu tenho o entendimento de que a pesquisa aplicada deve ser nas tecnologias voltada para a área agrícola.

Outro desafio é que consigamos ser mais conhecidos pela comunidade. Sabemos que isso já evoluiu, no começo as pessoas nem sabiam o que era o IFMS. Precisamos ser conhecidos e reconhecidos. Esse é um desafio. Sabendo o que é o IFMS, as pessoas poderão reconhecer nosso valor dentro da região.

E quais seriam os outros desafios?

Além do reconhecimento, temos outros objetivos bem definidos como aumentar o número de matrículas e diminuir a evasão. Temos a estrada [o campus se situa a 23 km da cidade, cujo acesso é feito por uma rodovia não pavimentada] que é o principal fator, mas não é o único. A questão geográfica limita muito, faz o aluno desistir. No ensino médio preenchemos as vagas, mas a evasão ainda é alta, em termos de tudo que é oferecido aqui.

No ensino superior, temos o curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, que já está reconhecido, mas tem uma taxa de evasão considerável. Até uma parte é normal, já que na Computação existe muita evasão mesmo, só não queremos que isso aumente por outros fatores. Há Agronomia, que está tendo uma procura muito boa, é um curso que será muito forte na região. Sobre o curso de Tecnologia em Produção de Grãos, precisamos fazer com que ele fique mais conhecido e que tenha mais procura até que seja fortalecido também.

De início seria isso, diminuir a evasão e aumentar a procura. Se conseguirmos ampliar a procura, posteriormente poderemos aumentar a oferta, já que é uma relação direta.

Como sua experiência na docência pode te ajudar a colocar suas ideias para o campus em prática?

Quando somos professores, os pesquisadores dizem que estamos lá no chão da fábrica. Algumas pessoas pensam muito nas políticas para educação, enquanto outras executam. O que eu acho válido da minha experiência docente é justamente esse entendimento do processo que ocorre em sala de aula. Temos pessoas dizendo o tempo todo que é necessário manter o aluno. Mas o que é manter o aluno? É fazer ele simplesmente ficar na instituição ou fazer ele entender o valor de estar aqui?

É um sentimento que a gente vê nos discentes que se formam. Quando isso acontece, eles olham para trás e dizem que tudo valeu à pena. Mas esse sentimento tem que acontecer antes, assim se evita que o aluno possa evadir. Creio que falta a experiência do professor ser levada em consideração nos processos. Se começarmos a integrar mais os docentes em termos de processos, nós conseguiremos fazer com que o professor se sinta parte da gestão.

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Assunto(s): Professor