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Entrevista

Jiyan Yari

Professor do Campus Campo Grande conta um pouco de sua trajetória educacional e fala sobre informática e projetos de pesquisa
publicado: 17/08/2015 12h37 última modificação: 03/03/2016 09h13
Ascom/IFMS
Professor de Informática do Campus Campo Grande

Professor de Informática do Campus Campo Grande

O professor de Informática Jiyan Yari largou o curso de Engenharia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) para se dedicar ao desejo de conhecer melhor o mundo da computação, ainda incipiente na década de 90.

Ele saiu da casa dos pais em Campo Grande e foi viver a aventura em Dourados, local onde começava a surgir o curso de Ciências da Computação da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

Na época, os computadores eram muito mais caros e o acesso a eles, um privilégio para poucos. Laboratório de informática então... uma raridade.

Atualmente dando aulas no Campus Campo Grande do IFMS, Jiyan comemora o acesso mais fácil às tecnologias e procura usar sua experiência para incentivar os jovens estudantes a não deixar problemas de infraestrutura interferirem em sua formação.

Na entrevista, Jiyan também fala sobre os prêmios que tem conquistado com os estudantes no desenvolvimento de projetos de pesquisa e diz que espera um futuro no qual o IFMS consiga cumprir a missão de distribuir conhecimento para todas as classes sociais.

Confira a íntegra da entrevista abaixo.

Qual a origem do nome Jiyan Yari?

O sobrenome Yari acho que é russo. Minha avó é russa. E o Jiyan é porque meu pai falou "vou te colocar o Jiyan porque senão o pessoal vai falar Jean", e acabou frisando o “y”.

O senhor é de Mato Grosso do Sul?

Vivo aqui desde a época da divisão do estado. Em janeiro de 1979, nós viemos de São Paulo para cá por acreditar no estado. Meu pai já tinha conhecido e percebeu o potencial, principalmente da cidade de Campo Grande. Na época, a preocupação do meu pai, que é engenheiro eletricista, era dar educação para os filhos. Aqui tinha a UFMS e praticamente todos os cursos que ele imaginava que a gente poderia fazer. Uma universidade boa, gratuita, para ele era mais que suficiente.

Qual foi sua trajetória educacional?

Eu comecei a estudar em Campo Grande a partir da 3ª série, na escola José Rodrigues Benfica, uma escola municipal muito boa. Estudei o 7º e 8ª ano no Joaquim Murtinho, que é outra escola fantástica. Tenho muita saudade das duas escolas. Quando fui para o ensino médio, meu pai, por uma questão de dar uma educação um pouco melhor, colocou a gente na escola Dom Bosco. Ele queria muito que eu fosse médico, porque a vontade dele era ser médico também, mas acabei entrando para o curso de Engenharia Elétrica e fiquei um semestre. Como eu já vinha tendo contato com computação e abriu o curso na UEMS, falei "vou fazer para ver o que vira".

Prestei vestibular em 1994, passei lá em Dourados e fiquei bem balançado. Aceitei o desafio e não me arrependo. O curso de Computação foi muito bom. Eu me formei em 1999, na primeira turma. A universidade então me ofereceu um curso de pós-graduação na UFMS na área de Gestão em Ciência e Tecnologia. Era um curso puxado e isso me impossibilitava de trabalhar. Acabei montando uma pequena empresa, teoricamente de informática, de fundo de quintal. Eu fazia de tudo. Programas, sites, assistência técnica em computadores, redes, fazia o que tivesse pra me sustentar.

Depois que eu terminei o curso, em julho de 2000, abriu uma vaga no Governo do Estado para trabalhar como gestor de projetos na área tecnológica. Montei meu currículo e fui aprovado. O projeto era para mapear instituições de ensino, pesquisa, ciência e tecnologia, montar um banco de dados e cadastrar todas as instituições com suas peculiaridades e estrutura. Em 2004, fui chamado para trabalhar na Uniderp. Ajudei a montar o curso de Tecnologia em Redes de Computadores. Depois, me tornei professor dos cursos de Redes e de Ciências da Computação. Permaneci até 2010, quando prestei concurso para o IFMS. Fui chamado em fevereiro de 2011 e desde então estou como professor do Campus Campo Grande.

Na época em que entrou para o curso de Computação, a UEMS estava bem no começo. Houve muita dificuldade?

Sim, nós tivemos bastante dificuldade. O campus foi entregue, mas não totalmente. Não tinha estrutura para receber alunos. Então desde o inicio foi feito um regime de parceira com a UFMS e os professores da Facom [Faculdade de Computação] nos davam aulas. No começo, estudávamos nas salas de aulas dos cursos de Agronomia e Biologia, não tínhamos laboratórios. Alguns trabalhavam na área e conseguiam suprir essa necessidade, tendo acesso a computador. Naquela época o computador não era tão acessível como é hoje. Em 1995, a gente recebeu os prédios definitivos, mas continuamos sem acesso a laboratório, sem acesso a uma infraestrutura mínima.

O senhor é um dos professores que fica muito sensibilizado e cobra melhor infraestrutura para os alunos no campus. Isso é porque viveu essa questão de falta de estrutura?

Sim. Acho que também é muito pela nossa vocação de cursos técnicos. Acredito que tínhamos que ter um perfil mais mercadológico. Por exemplo, se você tem um curso de mecânica, tem que ter um perfil das indústrias na área de mecânica. Na área de informática, a mesma coisa. Você tem que ter uma estrutura que possa oferecer ao aluno opções para que ele possa exercer esse papel normalmente no mercado de trabalho.

Em viagens à Europa, aos Estados Unidos e a outros locais, tive a oportunidade de conhecer outras escolas e universidades. Uma diferença básica deles para nós é justamente a importância dessa questão de infraestrutura. Se um aluno aprende em sala de aula um determinado conceito, ele deve ter condições de, em outro período, ir para o laboratório e desenvolver na prática. Nosso foco principal enquanto Instituto Federal, uma escola técnica, é de oferecer mão de obra qualificada para o mercado.

O IFMS está nesse caminho?

Acredito que sim. Nós estamos evoluindo bastante. É claro que há certas dificuldades, mas estamos caminhando pra isso. A gente tem conseguido ótimo aproveitamento em olimpíadas brasileiras de Geografia, História, Matemática, Astronomia. Nós temos uma participação efetiva em feiras e eventos científicos e temos percebido que os alunos têm respondido a esse estímulo. A gente está colhendo frutos dos quais, mais para frente, o país e a população vão se beneficiar.

A conclusão da obra do campus definitivo de Campo Grande faz falta para a comunidade?

Acho que faz falta ter um lar próprio, até para uma questão de identidade. O que as pessoas têm de identidade do Instituto Federal hoje é a reitoria. Acho que a falta de um local próprio até prejudica um pouco com relação à questão de você se estruturar, principalmente com relação aos laboratórios. Por exemplo, hoje eu tenho os equipamentos, mas vou montar onde? No campus provisório em que a gente está, não tem uma estrutura para montar uma máquina da área de mecânica, por exemplo, um motor industrial. Acho que mudar para o campus definitivo é um anseio de toda a comunidade do Instituto Federal.

A mudança para o atual campus provisório deu um alento, pelo menos, da situação que se vivia lá no outro campus?

Sim, deu um alento. Para nós da área de informática não mudou muito, porque os laboratórios que a gente tinha lá, acabou tendo aqui. Mas para outras áreas, por exemplo, para educação física, mudou. Eles não tinham locais apropriados. Hoje pelo menos tem uma quadra lá. E também uma questão de logística, de uma forma geral, os alunos têm gostado muito mais. No campus anterior era mais difícil conseguir um ônibus. Agora, por ser no centro da cidade, praticamente de todos os bairros você tem uma convergência.

Tem muita diferença em dar aula para um aluno de nível superior e um aluno de ensino médio? Qual a essência dessa diferença?

Sim, tem bastante. O aluno do ensino médio ainda está cru. É como entrar numa mina e identificar uma gema bruta. Você tem que lapidar, dar uma forma, para que ele possa brilhar e ter seu valor lá fora. O aluno do ensino superior já chega focado, sabe o que quer. E, geralmente, até por uma característica dos nossos cursos, que são na grande maioria no período noturno, ele já está inserido no mercado de trabalho. Os alunos do ensino médio têm, teoricamente, uma vantagem. Pelo fato da grande maioria dos estudantes do ensino superior trabalhar, eles não têm todo aquele tempo pra desenvolver outras atividades. Os alunos do ensino médio têm.

Nossos alunos têm se destacado, ganhado prêmios, feito pesquisas importantes. O senhor acha que esse é o caminho?

Sim, esse é o caminho. Temos professores com muita qualidade aqui no Instituto Federal que têm conseguido levar esses alunos para essa vertente científica e os alunos têm respondido. Nós estamos disponíveis lá [no campus] em horários que até não precisamos permanecer. É uma dedicação praticamente 24 horas por dia e sete dias por semana, 30 dias por mês. Esse vínculo é praticamente permanente.

Esse vínculo parece ter dado alguns bons resultados. Por exemplo, em 2015, o senhor foi pra a Intel ISEF (Feira Internacional de Ciências e Engenharia). Foi sua primeira viagem internacional?

Foi minha primeira viagem pelo Instituto. Tudo começou em sala de aula. Eu expus para os estudantes alguns projetos que estava desenvolvendo. Três deles vieram me procurar interessados em fazer um projeto e participar de eventos científicos. O Eduardo, o Lucas e o Pedro [autores do projeto Agri-Weather]. Nós já tínhamos um evento que eles queriam se inscrever, que era a Escola Regional de Informática, em Três Lagoas, que é realizado pelo Instituto Federal em parceria com a UFMS e com a Sociedade Brasileira de Computação. Nós corremos e elaboramos nosso projeto, enviamos e foi aprovado.

Isso serviu de incentivo para que a gente pudesse continuar o trabalho. Depois nós participamos da FETEC [Feira de Tecnologias, Ciências e Engenharias de Mato Grosso do Sul] e fomos premiados com nossa ida para a Febrace [Feira Brasileira de Ciências e Engenharia], em 2014. Na Intel, fomos premiados pela Associação Americana de Meteorologia. Nosso artigo foi publicado na revista deles. São três meninos do ensino médio que já têm uma publicação internacional que muito aluno de mestrado não tem. Para eles isso é fantástico, é um crescimento em termos de conhecimento e de vivência. Acho que não tem legado nenhum que seja superior a isso. Tudo é inesquecível.

O que o senhor e os alunos aprenderam de melhor na Intel ISEF?

Eu percorri praticamente todos os estandes que pude e vi como a ciência e tecnologia são tratadas em outros países. A gente pôde ver trabalhos dos mais diversificados, com metodologias diferentes, com resultados diferentes. O interessante é ver que a ideia é o mais importante. Tendo a ideia você até consegue suprir a questão da infraestrutura. Mas a gente pôde ver também que a infraestrutura e o apoio fazem muita diferença, nós tivemos capacidade de analisar alguns projetos lá que têm um apoio fantástico. Você tendo um apoio diferenciado, consegue se dedicar mais.

O senhor tem novos projetos já em andamento?

Os alunos vão vendo que a gente vai participando de eventos e se interessam. Tem muitos me procurando. O trabalho inicial é conversar com eles para ver a viabilidade das ideias. Duas meninas me procuraram com uma ideia bacana de produzir uma forma de energia ininterrupta. Nós conversamos e complementei a ideia delas, acho que vai sair um produto bacana. E tem outra estudante que veio me procurar. O projeto dela é o Alphabot, um projeto de robótica para alfabetização .O interessante é que ela escolheu o Instituto Federal em detrimento de outra escola que os pais queriam mandá-la porque aqui a gente trabalha com pesquisa, com iniciação cientifica. Isso é bem legal.

Importante a gente divulgar que alunos estão indo em feiras e tendo resultados positivos. Incentiva outros estudantes a querer participar.

Como analisa o futuro do IFMS?

Eu pessoalmente acho a ideia do Instituto Federal muito bonita. Eu até fiz concursos em outros locais, passei, mas optei pelo Instituto pela ideia. Acho que é uma vocação nossa, além da questão técnica, dar essa abrangência do conhecimento para todas as classes da população. É um compromisso que nós temos de levar esse conhecimento a setores que não têm acesso, que é a população mais pobre. No futuro, se a gente conseguir abranger essa população, nós vamos ter aí um efeito muito positivo para a nação, porque vamos conseguir inserir pessoas que não estão incluídas na sociedade hoje.

O que espera dos estudantes do Instituto Federal?

Sinceramente, eu espero que eles sejam ótimos cidadãos e ótimos profissionais. Que eles consigam desenvolver o seu papel profissional para que possam contribuir para sua sociedade, para sua comunidade, para a nação, de uma forma geral, e para o mundo também. Hoje, se você cria alguma tecnologia nova, um produto ou serviço novo, isso acaba repercutindo para o mundo todo em pouco tempo. Então, que eles sejam cidadãos e profissionais do mundo, que sejam excelentes pessoas, excelentes pais e profissionais. É isso que eu desejo. No final das contas, é o que importa. Eu tive um professor que falava que, no final, o que importa é o ser humano, porque a tecnologia vai e vem, mas o ser humano fica.

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Assunto(s): Professor, Pessoa