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Desafios I

Um ano de aulas remotas e de superação

Saiba como as atividades não presenciais, adotadas em março de 2020, impactaram na vida de estudantes, professores e no planejamento do IFMS
por Juliana Aragão publicado: 19/03/2021 14h23 última modificação: 25/03/2021 11h18

Nesta semana em que o Brasil bateu recordes de casos e de mortes provocadas pela Covid-19, o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) completou um ano de atividades não presenciais. No dia 18 de março de 2020, a instituição adotava o ensino e o trabalho remotos para prevenir a disseminação do novo coronavírus.

A partir daquele momento, estudantes e servidores eram obrigados a vivenciar uma nova e desafiadora rotina. 

Para a então estudante do Campus Campo Grande, Monnyê Gomide, 18, o desafio foi concluir o curso técnico integrado em Mecânica. A jovem cursou as disciplinas do último semestre e desenvolveu o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de forma remota e, graças à organização dos estudos, fez a apresentação em agosto e tirou a nota máxima.

"Aos que estão nas aulas remotas a dica é: não deixe as atividades para fazer depois, crie uma rotina que caiba na sua realidade e nunca deixe de estudar”, sugere Monnyê Gomide, que concluiu o técnico em Mecânica em 2020.

“As aulas remotas, para a minha turma, não foram novidade. Muitos professores já utilizavam a ferramenta, tanto para aplicar provas quanto atividades, então eu já sabia estudar dessa forma”, relata.

Monnyê tentou seguir a mesma rotina de estudos, como se estivesse no ensino presencial. “Assistia as aulas de manhã e, depois do almoço, fazia revisões e exercícios. Aos que estão nas aulas remotas a dica é: não deixe as atividades para fazer depois, porque o semestre passa rápido, crie uma rotina que caiba na sua realidade e nunca deixe de estudar”.

O TCC, que inicialmente era a construção de uma bancada didática para o estudo de escoamentos forçados em tubulações, precisou ser reformulado. Orientados pelo professor Fabiano Pagliosa, Monnyê e o colega Kevin Mota decidiram que, se não era possível ir para o laboratório construir a bancada, eles poderiam criar o caminho para isso. 

“Nós fizemos todo o projeto, ou seja, desenhamos a bancada e fizemos os cálculos. O mais difícil já foi feito, agora a parte da montagem está bem mais tranquila”.

Ansiosa pela formatura virtual, Monnyê tem planos de cursar Engenharia Mecânica. Para os estudantes que começaram o ano letivo de 2021 ainda com as atividades não presenciais, a jovem deixa uma mensagem de esperança. “Logo vocês estarão nos laboratórios de novo, brincando nos corredores e, principalmente, junto dos professores e amigos do IF”.

  • Nicole Cuellar, estudante do Campus Jardim, criou uma rotina de estudos e passou direto para o quarto semestre

  • Monnyê Gomide, no canto superior direito da tela, apresentou o TCC de forma virtual e tirou nota máxima

Para Nicole Cuellar, 15, que ingressou no curso técnico integrado em Informática do Campus Jardim em 2020, começar o ano letivo em uma nova escola, sem conhecer colegas e professores, e ainda com aulas remotas não foi fácil. Foi apenas um mês de ensino presencial.

“Foi muito difícil começar o ano sem estar diante do professor, ouvir a explicação em sala de aula, junto com os colegas. Aconteceu algumas vezes de eu não entender o conteúdo, fora a questão emocional. Inicialmente, tive momentos de bastante desânimo”, relembra.

“À noite, eu escrevo postites com as atividades e datas de entrega e prego na parede, então eu acordo e já vejo o que preciso fazer de manhã", sugere Nicole Cuellar, ingressante do curso técnico em Informática em 2020.

Mas, a vontade de fazer um curso técnico no IFMS foi maior do que o abatimento provocado pelo distanciamento social. Com a organização diária de estudos, Nicole nunca ficou em dependência.

“À noite, eu escrevo postites com as atividades e datas de entrega e prego na parede, então eu acordo e já vejo o que preciso fazer de manhã. Assim que a tarefa é enviada ao professor, jogo a anotação fora. A dica é separar um tempo do dia para estudar e se organizar, anotando os prazos”, sugere.

Ansiosa com o retorno às atividades presenciais, Nicole aprendeu em 2020 que, com persistência, é possível vencer os obstáculos da vida.

“Aos estudantes que estão no ensino remoto, saibam que é preciso persistir. Busquem ajuda de professores, tentem entender. Tenham responsabilidade com as atividades e os prazos e fiquem firmes no que querem alcançar”.

Diretrizes – Assim que o IFMS decidiu suspender as atividades presenciais, uma série de medidas foi adotada pela Pró-Reitoria de Ensino (Proen) para que se iniciasse a transição das aulas presenciais para o formato remoto.

Inicialmente, os dez campi foram orientados a reorganizar o cronograma de atividades e a utilizar Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para substituir as aulas presenciais. Paralelamente, os calendários letivos eram revistos pelos órgãos colegiados da instituição.

Na ocasião, a Proen publicou uma Instrução Normativa que trazia, entre outras normas, a utilização do Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem (Avea – Moodle) para a oferta das atividades, criação de canais de comunicação entre professores e alunos, além de orientações sobre a apresentação do TCC e os processos avaliativos.

Também foram necessárias alterações no Regulamento da Organização Didático-Pedagógica (ROD), no artigo que trata da possibilidade de oferta de atividades não presenciais em cursos presenciais; e nas Diretrizes para a Gestão das Atividades de Ensino, Pesquisa, Extensão e Gestão, ampliando a carga horária docente para a preparação de aulas de 75% para 100%.

A pró-reitora de Ensino, Cláudia Fernandes, relembra que foi necessário criar todas as instruções para as atividades de ensino não presenciais de forma muito rápida.

"Nosso desafio era manter o vínculo com o nosso estudante, para que ele não abandonasse a trajetória no IFMS. E para isso precisávamos verificar os instrumentos legais, de acordo com as orientações do Ministério da Educação e do Conselho Nacional de Educação, a infraestrutura técnica e ainda orientar todo o trabalho pedagógico".

No caso específico da questão pedagógica, a pró-reitora cita como ações, na época, a criação do perfil da equipe pedagógica no Moodle, para que se garantisse o acompanhamento das atividades, e também a oferta de cursos para que os professores se capacitassem pedagógica e tecnicamente.

O professor dos cursos da área de Informática do Campus Dourados, Sérgio Sass, não precisou se capacitar porque já tinha experiência em trabalhar com o Moodle. O maior impacto, na avaliação dele, está na preparação das aulas.

"Tornou-se algo muito mais complexo porque é preciso preparar o conteúdo para os alunos lerem e entenderem sem a ajuda presencial do professor. Para tirar as dúvidas, a maioria dos contatos é feita pelo WhatsApp e a gente acaba trabalhando muito mais do que o normal, com mensagens aos finais de semana e fora do horário", relata.

As atividades, dispostas por meio de slides e/ou vídeos, são postadas toda semana no horário normal da turma. Quando não são "ao vivo", as aulas nas salas virtuais são gravadas e, depois, disponibilizadas no sistema. A avaliação é feita por meio da aplicação de provas e trabalhos.

"O problema é que não temos como controlar a individualidade na resolução, pois como eles fazem em casa podem consultar outros amigos para resolver as atividades", ressalta.

Avaliação – Uma das ações implementadas pela Proen para acompanhar e promover o aperfeiçoamento constante das atividades de ensino não presenciais no IFMS foi a elaboração de recomendações para que os campi aplicassem, semestralmente, avaliações diagnósticas com estudantes e professores.

No caso dos estudantes, a recomendação é levantar dados como falta de acesso digital, possíveis dificuldades na aprendizagem e necessidade de recuperação, motivos para o não acompanhamento das atividades remotas, atendimento a estudantes com necessidades educacionais específicas, comunicação com os professores, entre outros.

"As orientações foram para que os campi fizessem a busca ativa dos estudantes que não obtiveram nota mínima ou apresentaram dificuldade na aprendizagem. Identificada a causa do problema, orientamos que se fizessem intervenções pontuais", explica a pró-reitora de Ensino, Cláudia Fernandes.

Por meio das avaliações diagnósticas, a Proen enviou aos campi orientações para a retomada e a recuperação da aprendizagem.

"As orientações foram para que os campi fizessem a busca ativa aos estudantes que não obtiveram nota mínima ou apresentaram dificuldade na aprendizagem no último semestre. Identificada a causa do problema, orientamos que se fizessem intervenções pontuais, que pode ser o empréstimo do computador, a entrega da atividade impressa ou até mesmo uma abordagem pedagógica individual com esse aluno", explica.

Especificamente quanto ao fato de o estudante não ter um computador em casa, recentemente foram destinados aos campi 300 equipamentos doados ao IFMS pelo MEC. As máquinas já começaram a ser repassadas a alunos em situação de vulnerabilidade social.

Os campi também estão emprestando a estudantes máquinas dos laboratórios da instituição. Até o momento, foram destinados 576 equipamentos para essa finalidade. A previsão é que, nas próximas semanas, pelo menos mais 70 computadores sejam repassados a ingressantes do IFMS.

Permanência e êxito - Um dos maiores desafios do ensino não presencial, que no IFMS segue pelo menos até o final deste semestre, é evitar que o estudante deixe de acompanhar as atividades ou que troque a instituição por outra.

Em 2020, segundo dados preliminares levantados da Proen no Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica (Sistec), 758 estudantes de cursos técnicos deixaram de estudar no IFMS, sendo que 481 abandonaram os estudos e 277 pediram transferência. O número total é menor do que o de 2019, quando 801 alunos da instituição deixaram o curso, sendo que 360 foram por evasão e 441 por pedido de transferência.

Nos cursos de graduação, 272 estudantes deixaram de estudar no IFMS em 2020, sendo que 266 abandonaram os estudos e seis pediram transferência. O número total também é mais baixo do que o de 2019, quando 464 acadêmicos deixaram a instituição, sendo que 448 foram por evasão e 16 pediram transferência, segundo a Proen.

"Uma de nossas grandes preocupações é a questão da evasão, por isso no ano passado foram oferecidos diversos auxílios que garantissem a permanência desse estudantes no IFMS. Foram mais de mil auxílios de acesso digital, fora a oferta do kit alimentação escolar e dos auxílios emergenciais, permanência e eventual", destaca Cláudia.

De acordo com a Proen, o Auxílio Emergencial beneficiou 1.278 estudantes em situação de vulnerabilidade social que, durante três meses, receberam o valor de R$ 150. Outros 565 Auxílios Eventuais, no mesmo valor, foram destinados a alunos. O Auxílio Permanência, no valor de R$ 280 mensais, foi pago a 2.106 estudantes no ano passado. O kit alimentação escolar, segundo a pró-reitoria, beneficiou 1.496 estudantes dos dez campi.