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Verticalização

Aos 15 anos, IFMS forma do técnico à pós-graduação na mesma área

Conheça a história da técnica, tecnóloga e mestra em Alimentos formada em Coxim. Trajetória que também pode ser a de outros estudantes
por Juliana Aragão publicado: 04/12/2023 10h18 última modificação: 07/12/2023 14h19
  • A formatura no técnico integrado em Alimentos fechou um ciclo de novas experiências - Foto: Arquivo Pessoal

  • No técnico integrado, Clistiane pesquisou o uso de castanha de pequi na alimentação - Foto: Arquivo Pessoal

  • A participação em feiras científicas foi outra vivência proporcionada pelo IFMS - Foto: Arquivo Pessoal

Foi no ano de 2012 que o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) entrou na história da vida de Clistiane Santos Santana, a personagem principal desta reportagem. Na época, a então adolescente de 16 anos, que cresceu na pacata cidade pesqueira sul-mato-grossense de Coxim, nem imaginava que uma década depois teria em seu currículo acadêmico as formações técnica, tecnológica e o mestrado na área de Alimentos.

Esse caminho que Clistiane percorreu tem nome e se chama verticalização, uma das principais características das instituições que compõem a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, da qual o IFMS faz parte. O ensino verticalizado possibilita ao estudante cursar todas as etapas da educação profissional e tecnológica em uma mesma instituição, desde o curso técnico de nível médio até a pós-graduação.

O primeiro capítulo da história que iremos contar definitivamente não é um spoiler do que virá pela frente. Ao perguntar para a Clistiane porque ela decidiu fazer o curso técnico integrado ao ensino médio em Alimentos no IFMS, a resposta foi surpreendente. "Passou um filme quando li essa pergunta, porque não era para fazer este curso", relembra.

"No técnico integrado, desenvolvi projetos de pesquisa e fiz também a primeira visita técnica ao um frigorífico. Foi surreal conhecer cada setor, os profissionais especializados, as técnicas de abate", recorda a então estudante do técnico integrado Clistiane Santana.

Ao fazer a prova para ingresso no IFMS, a inscrição foi para o técnico em Informática. A questão é que o curso teve uma alta procura e Clistiane não conseguiu entrar. Até que um dia, ela recebeu a ligação de um número desconhecido.

"Era um servidor do Instituto me convidando para fazer o curso técnico em Alimentos, porque havia vagas disponíveis. Liguei para minha mãe e falei, vou arriscar, ainda mais porque é uma escola federal! Por fim, deu tudo certo. Fui para o IF e vivi muitas experiências", recorda a filha de pai militar e mãe representante comercial.

Primeiras experiências - Entre 2012 e 2016, Clistiane cursou no Campus Coxim do IFMS o ensino médio regular ao mesmo tempo em que fazia as disciplinas do curso técnico em Alimentos. Essa é a dinâmica de um curso técnico integrado. E nesses quatro anos de IF, a adolescente viveu uma série de experiências, segundo ela, enriquecedoras.

"No técnico integrado, desenvolvi projetos de pesquisa, como o da aceitabilidade das barras alimentícias com castanha de pequi e a elaboração de um glossário de termos técnicos para ser usado pelos estudantes de Alimentos. Fiz também a primeira visita técnica a um frigorífico, e a empresa ganhou meu coração. Foi surreal conhecer cada setor, os profissionais especializados, as técnicas de abate", rememora.

O estágio curricular obrigatório é outra experiência que Clistiane guarda na memória.

"Estagiei no Laboratório de Química do IFMS, no qual auxiliava nas aulas práticas, organizava vidrarias e deixava tudo organizado. Nas horas livres, a técnica me ensinou várias práticas que foram de grande ajuda na graduação. Gravei todas as vidrarias que havia no laboratório, aprendi a usar equipamentos. São experiências difíceis de esquecer".

  • Na graduação, a pesquisa foi sobre o uso da ora pro-nóbis na produção de um suplemento alimentar - Foto: Arquivo Pessoal

  • Pesquisas e visitas técnicas fizeram parte da rotina no curso de graduação - Foto: Arquivo Pessoal

  • Ao final da graduação, Clistiane fechou mais um ciclo acadêmico no IFMS - Foto: Arquivo Pessoal

IFMS 2.0 - Em 2016, antes mesmo de se formar técnica pelo IFMS, Clistiane ingressou no curso superior de Tecnologia em Alimentos, também ofertado pela instituição em Coxim. "Precisei até faltar a aula da graduação pra ir à formatura do técnico integrado (risos)"

A decisão de fazer a graduação na mesma área foi tomada a partir de um certo encantamento por uma das professoras da área, que não faz mais parte dos quadros da instituição.

"Ficava impressionada com a maneira como ela dava aula. Chegava na sala com um papel pequeno, escrito a mão mesmo, e era com aquelas anotações que ela enchia o quadro de conhecimento. Eu falava para mim mesma, um dia quero ser igual a ela. A professora Mariana Prates foi uma inspiração, ela fez com que eu me apaixonasse pela área de Alimentos", recorda com saudade.

O ensino superior trouxe novas vivências, inclusive em outras cidades e estados. Foi o caso das visitas técnicas a uma cervejaria em Rondonópolis (MT), à Embrapa Pantanal, em Corumbá e a um frigorífico em São Gabriel D'Oeste.

Na pesquisa, Clistiane desenvolveu um projeto que rendeu frutos.

"A proposta era desenvolver um suplemento alimentar em cápsulas utilizando a ora pro-nóbis (Pereskia aculeata) visando o fornecimento de ácido fólico e proteínas durante a gestação humana. Apresentei esse projeto no Semict 2018 [Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica do IFMS] e, no mesmo ano, o trabalho foi selecionado no Programa Jovens Inovadores, da Rede do Programa de Olimpíadas do Conhecimento", ainda comemora.

A apresentação do trabalho em Portugal não se concretizou, mas o resultado da seleção segue no currículo de Clistiane. "Na época não deu para ir até lá, mas o fato de o trabalho ter sido selecionado em meio a tantos outros já me deixou feliz".

O estágio da graduação foi na Vigilância Sanitária do Município de Coxim, o que rendeu a Clistiane a experiência de visitar indústrias alimentícias da região.

  • Graças a uma parceria entre o IFMS e o IFG, não foi preciso sair de Coxim para fazer o mestrado - Foto: Arquivo Pessoal

  • A linha de pesquisa foi "Caracterização, desenvolvimento e inovação de produtos de origem animal" - Foto: Arquivo Pessoal

  • Mestra em Tecnologia de Alimentos, Clistiane já pensa em fazer doutorado na área - Foto: Arquivo Pessoal

De repente, o mestrado! - Fazer pós-graduação em Alimentos sempre esteve nos planos de Clistiane, porém a então tecnóloga teria que deixar Coxim, por não haver oferta de cursos de especialização nem mestrado na área. Até que em 2021, em plena pandemia de Covid, o cenário mudou.

"Uma professora me procurou para contar que o IFMS iria oferecer mestrado em Coxim em parceria com o Instituto Federal de Goiás. No exato momento da prova, a defesa on-line do projeto, meu pai estava fazendo uma cirurgia em Campo Grande e ele sempre me falou para não desistir. No final, tudo deu certo. Ele ficou bem e eu passei para o mestrado. Como uma boa filha, retornei à minha casa, no caso o IFMS".

"Visitei a obra do campus [Coxim] sendo construído, e olhar para ele hoje é gratificante. Foram dez anos de vínculo e tenho orgulho de ter feito parte da história do IFMS", celebra Clistiane, agora mestra em Tecnologia de Alimentos.

Com a linha de pesquisa "Caracterização, desenvolvimento e inovação de produtos de origem animal", Clistiane relembra que os anos dedicados ao estudo não foram fáceis. A rotina de reuniões on-line, os cuidados com o pai e as viagens para apresentar trabalhos fizeram a mestranda cair em depressão e concluir o curso graças ao apoio da família.

"Mesmo estando em uma instituição federal, meus pais bancaram toda a compra do material do mestrado, o que não foi barato. Eles nunca desistiram de mim, me apoiaram e me ajudaram a sair da depressão. Todos esses anos de estudo eu dedico a eles e a minha irmã, sem minha família eu não teria conseguido", agradece.

Mestra em Tecnologia de Alimentos desde 2023, Clistiane já está "de olho" em um doutorado na área de Alimentos.

Sobre a relação que criou com o Instituto Federal, a egressa lembra que durante muitos anos o IFMS foi sua casa e que viu a instituição, literalmente, crescer.

"Visitei a obra do campus sendo construído, e olhar para ele hoje é gratificante. Vi vários professores maravilhosos passarem pelo IF, fiz inúmeras amizades, participei de feiras, congressos. Foram dez anos de vínculo e tenho orgulho de ter feito parte desta instituição", finaliza.

Verticalização - A Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que criou os Institutos Federais, diz no Art. 6º que a verticalização deve ser uma das finalidades e características das instituições.

A pró-reitora de Ensino do IFMS, Claudia Fernandes, destaca que a instituição busca atender à legislação em todos os seus processos, o que inclui os estudos de viabilidade feitos anteriormente à abertura de novos cursos.

"Os estudos de viabilidade nos permitem analisar as demandas da população local quanto à necessidade de formação educacional e habilitação profissional. Nessa análise, consideramos a estrutura institucional, como salas de aula, laboratórios e docentes da área. Os cursos de graduação somente são ofertados caso, além da análise de viabilidade, o eixo tecnológico do mesmo esteja sendo ofertado no nível médio", explica.

"Para o IFMS, a verticalização permite otimização da estrutura. Para a população, promove a elevação da escolaridade. E para o município e região, contribui para o desenvolvimento", detalha a pró-reitora de Ensino, Claudia Fernandes. 

De acordo com a pró-reitora, os dez campi do IFMS possuem cursos que garantem a verticalização entre os níveis técnico e superior em pelo menos um eixo tecnológico. "O IFMS trabalha para que os novos cursos também observem esse critério. No histórico da instituição, um total de 60 alunos verticalizaram do ensino técnico para a graduação", complementa.

Outro exemplo de verticalização ocorre em Corumbá, onde o estudante pode seguir do técnico em Informática para o superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e se especializar em Informática Aplicada à Educação. 

No próprio Campus Coxim, outros três cursos de diferentes níveis seguem a verticalização. O estudante que se forma no técnico em Desenvolvimento de Sistemas pode seguir para o curso superior de Tecnologia em Sistemas para Internet e, na sequência, cursar a especialização em Robótica Educacional.

Outras possibilidades de verticalização estão sendo analisadas, informa a diretora-geral do IFMS em Coxim Angela Kwiatkowski. "Estudamos a possibilidade de propor um curso de mestrado que inclua área de Alimentos integrada à área de Recursos Naturais, como Aquicultura, Agropecuária e Engenharia de Pesca, trazendo como meio norteador a sustentabilidade", prevê.

Na avaliação da pró-reitora de Ensino e da diretora-geral do Campus Coxim, a verticalização é algo que beneficia não só o estudante, mas o município onde os cursos são ofertados e a própria instituição.

"Para o IFMS, permite otimização da estrutura nas ações de ensino e formação, no desenvolvimento da pesquisa e projetos de extensão. Para a população, promove a elevação da escolaridade, aliada à especialização na área escolhida. E para o município e área de abrangência, contribui para o desenvolvimento econômico e social", detalha a pró-reitora. 

"A verticalização que o IFMS promove em Coxim beneficia toda comunidade que vive na região Norte de Mato Grosso do Sul, pois traz para o interior a possibilidade de os profissionais continuarem se capacitando, visto a distância entre os municípios desta região e a capital do estado, o que dificulta o acesso e a realização destes cursos pela população e desenvolvendo a região pela formação destes profissionais qualificados", complementa Angela.