Reditec 2025
Feira de artesanato fortalece economia criativa
Texto e fotos: Angélica Lúcio (IFPB)
Revisão: Juliana Aragão(IFMS)
A trajetória da primeira cacique do Brasil, a indígena do Povo Terena de Mato Grosso do Sul Enir Bezerra, foi um dos destaques da Feira de Economia Solidária realizada durante a 49ª Reunião Anual dos Dirigentes das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica(Reditec). O evento foi sediado pelo Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) entre 2 e 5 de setembro, em Bonito (MS).
Falecida em 2016, Enir Terena deixou legados como protagonismo e pioneirismo para a filha, a artesã Maria Auxiliadora Bezerra, idealizadora do Instituto Cacique Enir Terena. A entidade atua com foco em mulheres artesãs da aldeia urbana Marçal de Souza, em Campo Grande (MS), e participou da Feira de Economia Solidária na 49ª Reditec.
"Formamos esse coletivo de mulheres artesãs porque temos a consciência de estarmos vivendo no contexto urbano; porém, de diferentes maneiras, a nossa cultura a gente preserva”, ressalta Maria Auxiliadora Bezerra, do Instituto Cacique Enir Terena
“O Instituto Cacique Enir Terena é um espaço que promove o fazer e o comercializar da nossa arte. Nós formamos esse coletivo de mulheres artesãs porque temos a consciência de estarmos vivendo no contexto urbano; porém, de diferentes maneiras, a nossa cultura a gente preserva”, ressalta Maria Auxiliadora.
Em 2024, o IFMS tornou-se parceiro da entidade por meio de um projeto aprovado no Edital Nacional conjunto do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e do Ministério das Mulheres. Foram repassados R$ 100 mil para a formalização do Instituto Cacique Enir Terena e para a implantação do sistema de e-commerce (venda pela internet).
“Por coincidência, peguei o CNPJ [Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica] em 22 de agosto, dia do aniversário da minha mãe. E foi com a ajuda do IFMS, viu? Olha, o Instituto Federal me deu muito amor. É muito importante para nós. Foi um parceiro que eu sempre precisei”, celebra.
Diversidade - Da cerâmica ao metal - passando por doces e biscoitos, peças em macramê, crochê, papel ou sementes e pele de animais, como jacaré e avestruz -, a Feira de Economia Solidária expôs de tudo um pouco. Por trás do talento e trabalho de cada artesão, porém, existe muito a descobrir. São histórias de gente que aprende, insiste, resiste e faz.
“É muito importante esse espaço e a disponibilidade de poder mostrar nossa arte, nosso produto, a capacidade de produção que nós, moradores de uma pequena cidade turística, temos", comenta o artesão Wellington Leite.
É o caso de Wellington Leite, que trocou os plantões como enfermeiro no Sistema Único de Saúde (SUS) pelo artesanato em couro. Após 15 anos na área da saúde, saiu de Campo Grande para Corumbá, onde descobriu a vocação ao fabricar uma bainha de facão para o pai. Assistindo a vídeos no YouTube, aprendeu a produzir facas artesanais, carteiras e acessórios com couro de jacaré e avestruz, que hoje trazem a marca ‘Camalote’.
“Não sinto saudade da enfermagem, já contribuí no meu período. Hoje estou satisfeito como artesão e empreendedor”, afirma Wellington, já premiado no Salão Nacional de Cutelaria.
Para o artesão, ambientes para a comercialização das peças, como a Feira de Economia Solidária da 49ª Reditec, são essenciais para quem atua no segmento da economia criativa. “É muito importante esse espaço e a disponibilidade de poder mostrar nossa arte, nosso produto, a capacidade de produção que nós, moradores de uma pequena cidade turística, temos. Assim, a gente pode trazer não só o produto, mas também um pouco da história do Pantanal. É fundamental, então, nós termos essa parceria”, comenta.
Já o estadunidense Seth Barch, que veio para o Brasil e mora há cerca de dois anos em Bonito, aprendeu um pouco de sua arte na escola e outro tanto como autodidata. O artesão produz joias em cobre, latão e prata, além de peças decorativas, usando uma técnica chamada foldforming, que envolve processos de dobrar, forjar e desdobrar uma chapa de metal. Além disso, Seth trabalha com outra diversidade de materiais naturais, como madeira, pedras, argila e couro.
“Adoro brincar no espaço entre o natural e o construído. Amo a justaposição de opostos, como ordem e caos”, conta o artesão estadunidense Seth Barch, em Bonito há dois anos.
O português de Seth ainda é precário, mas sua artesania é de excelência. “Adoro brincar no espaço entre o natural e o construído. Amo a justaposição de opostos, como ordem e caos”, conta.
Outra artesã indígena com peças expostas na Feira de Economia Solidária foi Sebastiana Batista Terena. Residente em Campo Grande há 30 anos, onde foi estudar e trabalhar, recentemente fez cursos de artesanato em cerâmica, mas antes já fazia peças com sementes, madeira, penas e outros elementos naturais. “Não trabalho para ninguém, trabalho para mim mesma, e exponho em feiras, universidades e outros espaços”, explicou Sebastiana, que na semana seguinte iria para Brasília expor suas peças.
Para a maioria dos expositores, o artesanato tornou-se um meio para complementar a renda familiar. É o caso de André Vieira, professor de formação e artesão há pouco mais de quatro anos, quando a mulher teve depressão pós-parto. “Foi quando ela começou a fazer colares, e o artesanato, então, ressignificou tudo. Foi uma ferramenta para ela ganhar força”, relembra. No começo, a esposa fazia peças em macramê e depois ele se uniu ao trabalho, produzindo peças em madeira, pois já possuía esse hobby, para serem usadas em colares e outros itens. “Assim acabamos juntando as duas coisas”.
“Como artesão e educador, é muito satisfatório participar da Feira de Economia Solidária da Reditec. Admiro muito o modelo de educação do Instituto Federal e almejo que ainda farei parte do IFMS”, disse André Vieira.
Professor de Matemática, André sonha não apenas em fazer parte da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica como docente, mas também que seus filhos possam estudar no IFMS no futuro. “Amamos o que fazemos na educação, e o artesanato veio para complementar. Como artesão e educador, é muito satisfatório participar da Feira de Economia Solidária da Reditec. Admiro muito o modelo de educação do Instituto Federal e almejo que ainda farei parte do IFMS”, disse.
Feira de Economia Solidária - Organizada pela Pró-Reitoria de Extensão do IFMS em parceria com as Prefeituras Municipais de Bonito e Jardim e representantes locais da economia criativa, a iniciativa buscou aproximar comunidades e empreendedores em um espaço para a comercialização de produtos artesanais e alimentícios.
Para o pró-reitor de Extensão do IFMS, Anderson Corrêa, a economia solidária fortalece a geração de renda e valoriza a produção artesanal familiar. Ao proporcionar a feira durante a 49ª Reditec, evento com mais de 1,2 mil participantes, criou-se um espaço de visibilidade. “Esse encontro entre quem produz e quem consome é o grande diferencial das feiras, que movimentam a economia criativa e fortalecem o desenvolvimento local”, afirma.
Ao todo, 20 expositores - dos municípios de Bonito, Jardim e Campo Grande -, participaram da feira.