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Eficiência energética é foco de pesquisas em Três Lagoas

Projetos desenvolvidos já possibilitam a economia de cerca de R$30 mil ao ano na conta de energia elétrica do campus.
por Laura Silveira publicado: 19/08/2019 15h32 última modificação: 23/08/2019 10h40

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Buscar alternativas para reduzir os gastos com energia elétrica e difundir esse conhecimento junto à população. Esses são alguns dos objetivos de projetos de pesquisa desenvolvidos durante o ciclo 2018-2019 da iniciação científica no Campus Três Lagoas do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS).

Dos 29 projetos executados – que contaram com a participação de 62 estudantes, sendo 35 bolsistas e os demais voluntários – pelo menos cinco trataram especificamente sobre eficiência energética.

Dois deles foram orientados pelo professor de Eletrotécnica, Murilo Frigo. O "Eficiência Energética em Prédios Públicos: um estudo de caso da edificação do Campus Três Lagoas do IFMS" fez um levantamento sobre o uso de energia na unidade, por meio de análises sobre o sistema de iluminação, ar condicionado e contrato de fornecimento.

“O resultado foi a otimização e a atualização do contrato com a prestadora, o que tem gerado uma economia de R$ 2.600,00 por mês na conta de energia. Por isso é importante fazermos uma análise do consumo, já que o comportamento vai mudando, e temos que avaliar o que for mais benéfico”, ressaltou o orientador. Anualmente, o valor economizado pode ultrapassar, em média, R$ 30 mil reais.

"O que mais gostei, ao ter contato com o tema eficiência energética, foi o fato de poder conciliar em um projeto de pesquisa o desenvolvimento econômico e o meio ambiente”, apontou a estudante Isadora da Rosa.

Outro resultado do estudo aponta que a iluminação no estacionamento do campus poderia ser substituída por lâmpadas de led e que o valor investido teria um retorno entre quatro e cinco meses. A viabilidade da medida está sendo analisada pela direção do campus.

Apesar de ter fundamental importância para a sociedade, a eficiência energética ainda é um tema desconhecido, inclusive por estudantes do próprio IFMS.

“Quando o professor Murilo me convidou para participar do projeto, eu nem sabia direito o que era eficiência energética. Gostei tanto que passou a ser tema do meu trabalho de conclusão de curso. O que mais gostei foi o fato de poder conciliar o desenvolvimento econômico com o meio ambiente”, apontou Isadora da Rosa, 21, que já concluiu o curso técnico em Eletrotécnica e agora finaliza o estágio curricular obrigatório. 

Energia solar - Em outro projeto de pesquisa orientado por Frigo, "Estudo da viabilidade técnica e econômica da implantação de um sistema de microgeração fotovoltaica no Campus Três Lagoas do IFMS", foram analisados dados da usina de geração de energia solar instalada na unidade no ano passado.

"Aprendemos sobre eficiência energética no curso de Eletrotécnica, e ver tal matéria aplicada na prática possibilita um entendimento maior sobre o assunto”, ressaltou a estudante Larissa Silva.

Os números indicam que a usina tem gerado, em média, 8.600 kWh/mês, o que representa uma economia de aproximadamente R$ 3 mil mensais. O projeto auxilia a compreender o funcionamento da usina e os fatores que podem interferir na geração de energia.

Uma das análises verificou que a poeira, por exemplo, interfere na geração de energia da usina fotovoltaica, principalmente nos meses em que não chove em Três Lagoas. Foi um dos aprendizados que a estudante Larissa Silva, 19, que cursa o 6º semestre do técnico em Eletrotécnica, teve ao participar como bolsista do projeto pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico).

“Verificamos que vários elementos podem influenciar no rendimento das placas solares, principalmente a sujeira acumulada em cima delas. Aprendemos sobre eficiência energética no curso de Eletrotécnica, e ver tal matéria aplicada na prática possibilita um entendimento maior sobre o assunto”, apontou a aluna.

"O que falta é a popularização do conhecimento, o que é um dos nossos objetivos com as pesquisas, de mostrar que há possibilidades baratas que dão retorno rápido”, afirmou o professor Murilo Frigo.

Para orientador, o projeto é importante porque estuda um assunto que causa curiosidade nas pessoas, mas ainda é pouco conhecido.

“A energia solar sempre é destaque na mídia, a sociedade tem muita curiosidade, e os estudantes demonstram interesse. Há ainda muitas perguntas sem respostas, porque o tema é relativamente novo. A população e as empresas querem e têm a necessidade de economizar, mas não sabem como”, apontou Frigo.

Segundo o professor, o trabalho do IFMS contribui para a disseminação do conhecimento.

“Na literatura, constam como barreiras da eficiência energética a falta de informação, dados, e a falta de profissionais qualificados. O IFMS contribui para derrubar ambas. O que falta é a popularização do conhecimento, o que é um dos nossos objetivos com as pesquisas, de mostrar que há possibilidades baratas que dão retorno rápido”, finalizou.

  • Usina fotovoltaica do Campus Três Lagoas possui um módulo utilizado para fins pedagógicos

  • A implantação da usina é parte do projeto IFSOLAR, elaborado pelo Instituto Federal Sul de Minas (IFSULDEMINAS) com a participação de outros institutos federais

  • Isadora da Rosa (esquerda) desenvolveu projeto sobre eficiência energética com a colega Sabrina de Souza

  • A estudante Larissa Silva fez estudos sobre a usina de geração de energia solar instalada no campus

  • Professor de Eletrotécnica Murilo Frigo orientou os dois projetos de pesquisa

  • Visita técnica à Usina Hidrelétrica de Itaipu complementou estudos dos estudantes sobre o assunto

  • Visitas técnicas, assim como a iniciação cientítica, permitem que os estudantes do IFMS tenham outras perspectivas sobre temas abordados em sala de aula

Agricultura - Além das pesquisas ligadas à eficiência energética, o Campus Três Lagoas também desenvolve projetos em outras áreas.

Um deles, "Automatização de baixo custo de uma estufa para produção de mudas no Assentamento 20 de março", foi voltado em benefício da agricultura familiar, criando um sistema automatizado de irrigação.

O trabalho teve início a partir de uma demanda do próprio assentamento, que possuía uma estufa que estava sem uso.

"Acredito que outras escolas também deveriam fomentar a iniciação científica, pois ajuda a desenvolver e ampliar o conhecimento do estudante, e também permite que ele vivencie outras realidades, ajudando pessoas que precisam”, disse o estudante Eduardo da Silva.

“Buscamos uma solução prática. O sistema permite a irrigação das mudas de forma automática, num determinado período do dia e em determinadas condições ambientais, como temperatura, umidade do ar e luminosidade”, explicou o professor de Eletrotécnica José Aparecido Jorge Junior, orientador do projeto.

O sistema já foi implementado e agora está em fases de testes. O próximo passo, segundo o professor, é realizar uma capacitação sobre a utilização do mesmo. Outra demanda do assentamento já está em andamento no campus, que é o desenvolvimento de um sistema automatizado para irrigar a horta de assentados.

De acordo com Eduardo da Silva, 18, estudante do técnico em Eletrotécnica e bolsista do trabalho, a experiência contribuiu para que ele desenvolvesse o conhecimento em várias áreas, como arduíno e sensores, e também em ter experiências de convívio.

“Foi um prazer conviver com as pessoas no assentamento e aprender com elas. Acredito que outras escolas também deveriam fomentar a iniciação científica, pois ajuda a desenvolver e ampliar o conhecimento do estudante, e também permite que ele vivencie outras realidades, ajudando pessoas que precisam”, disse Eduardo.

O projeto contou com a parceria do Núcleo de Estudo em Agroecologia e Produção Orgânica (NEA) na região do Bolsão/MS, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

  • Sistema torna automática irrigação em estufa de assentamento rural - Foto: NEA Agroecologia

  • Estudantes auxiliaram na instação do sistema no dia 9 de maio - Foto: NEA Agroecologia

  • Projeto foi voltado em benefício da agricultura familiar - Foto: NEA Agroecologia

  • Trabalho foi orientado pelo professor José Aparecido (à esquerda) e teve como um dos bolsistas o estudante Eduardo da Silva (ao lado direito dele) - Foto: NEA Agroecologia

Iniciação Científica - Participar de um projeto de pesquisa no IFMS agrega não só na formação acadêmica do estudante, mas também em outras áreas do desenvolvimento.

“Desenvolver o trabalho me ajudou na minha formação acadêmica e também na minha formação pra vida. Consegui organizar minha rotina de estudos, aprendi a receber críticas quanto à pesquisa e a usá-las para melhorar”, ressaltou Isadora, que foi bolsista do projeto de eficiência energética por um ano pelo CNPq.

A estudante Larissa também acredita que irá usufruir, no futuro, da experiência adquirida na iniciação científica.

“Acho muito importante a oportunidade que o IFMS dá aos estudantes de realizar iniciação científica, pois além de aumentar o conhecimento sobre a área de estudo, nos dá uma base de como montar, planejar, pesquisar e executar um projeto. Isso servirá futuramente, principalmente na faculdade, porque com a bagagem adquirida aqui, já saberei por onde começar lá na frente”.

Para a execução dos projetos de pesquisa no Campus Três Lagoas, no período compreendido entre agosto de 2018 e julho de 2019, foram investidos R$ 117.280,00 por meio de apoio financeiro e da concessão de bolsas para estudantes de cursos técnicos e graduação. O valor pago aos bolsistas é proveniente do orçamento do IFMS e também via CNPq.

De acordo com a Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação (Propi), desde 2014 o campus soma 98 projetos, em um total de 533 em toda a instituição. É a unidade do IFMS com mais trabalhos selecionados.

"Antes, os professores tinham que ir atrás dos estudantes, agora são os alunos que buscam a pesquisa, estão se empenhando e dedicando, o que acaba se refletindo em números expressivos relacionados à área”, ressaltou a coordenadora de Pesquisa e Inovação do campus, Ligia Perassa.

Além dos trabalhos de Três Lagoas, o IFMS contou ainda com outros 194 trabalhos nos demais nove campi da instituição no ciclo que se encerrou. O montante total investido no ciclo foi de R$ 564.540,39.

Para o novo ciclo 2019-2020, o Campus Três Lagoas tem 28 projetos aprovados. Eles estão relacionados às áreas de Ciências Agrárias, da Saúde, Exatas e da Terra, Humanas, Sociais Aplicadas, e Engenharias.

A seleção foi feita por meio do edital nº 028/2019, e teve um total de 211 propostas aprovadas dos dez campi do IFMS, com a participação de 497 estudantes da instituição.

As pesquisas, estão sendo desenvolvidas a partir deste mês até julho do ano que vem, devem gerar produtos ou processos com foco na busca por soluções criativas e inovadoras a problemas da sociedade. São protótipos, dispositivos, planos de ação, manuais, cartilhas, softwares, sites, aplicativos, procedimentos, entre outros exemplos.

“Além de divulgar o IFMS, a feira científica fomenta nos participantes a vontade de aprender mais e buscar o conhecimento", disse a coordenadora de Pesquisa e Inovação, Ligia Perassa.

Feiras - Anualmente, o IFMS promove em seus campi as Feiras de Ciência e Tecnologia, para apresentação de trabalhos de pesquisa não só da própria instituição, mas também de estudantes do ensino fundamental e médio de escolas públicas e privadas do estado. Em Três Lagoas, o evento recebe o nome de Fecitel.

“O trabalho realizado pelas feiras é fundamental. Além de divulgar o IFMS, o evento consegue fomentar nos estudantes participantes a vontade de aprender mais e buscar o conhecimento. Eles percebem que a pesquisa tem, sim, importância, que ela vai além da escola, e que pode levá-los a participar de eventos até internacionais”, apontou Ligia.

De 2014 a 2018, o campus teve um total de 346 projetos aprovados para a Fecitel. As inscrições para a edição 2019 estão abertas. O evento será realizado nos dias 1º e 4 de outubro, durante a Semana de Ciência e Tecnologia do IFMS.

Além de Três Lagoas, podem participar estudantes de Água Clara, Aparecida do Taboado, Brasilândia, Cassilândia, Chapadão do Sul, Inocência, Paraíso das Aguas, Paranaíba, Santa Rita do Pardo, e Selvíria, municípios que compõem a área de abrangência do campus. As regras de participação estão dispostas na Central de Seleção.

Aqui tem Ciência e Tecnologia - A série de reportagens traz a importância da iniciação científica para a sociedade.

Já foram abordados projetos de pesquisa do Campus Nova Andradina sobre produtividade agrária, a consolidação de Coxim como polo de pesquisa na região Norte do estado, alguns trabalhos desenvolvidos pelo Campus Jardim e também em Naviraí.

A série ainda apresentará pesquisas dos campi Aquidauana, Campo Grande, Corumbá, Dourados e Ponta Porã.